//ANÁLISE// A última chance do Brasil na semana que vem

                                                                                                                                                  


Fernando Pesciotta


A posse de Joe Biden nos EUA parece ser a melhor coisa que aconteceu para o Brasil neste ano. A saída de Donald Trump significou uma ruptura com o extremismo de direita, tirou a referência de Bolsonaro, isolou o Brasil e eliminou o apoio para estratégicas sinistras do Planalto.

Biden está sendo acusado de estatista por investidores do mercado financeiro dos EUA. O plano de recuperação da economia passa pela injeção de US$ 3 trilhões, ou cerca de R$ 15,5 trilhões, em pessoas e setores mais atingidos pela pandemia.

Os recursos virão do aumento de impostos de grandes e altamente lucrativas empresas e de milionários. Para os operadores de mercado, isso pode representar elevação do papel do Estado na economia. Banqueiros alegam que pode haver desarranjo fiscal.

A nova gestão está revendo também o papel dos EUA em políticas internacionais, especialmente aquelas relativas ao clima.

Ao contrário de Trump, Biden deixou claro que vai exigir compromisso com a preservação ambiental. Quer o Brasil reinserido na questão do clima, e está disposto a pagar para isso. Foi o suficiente para Bolsonaro e o abominável ministro do Meio Ambiente mudarem o discurso. Mas isso não basta.

O Brasil, que boicotou as últimas conferências do clima da ONU, foi convidado por Biden para participar de uma cúpula do clima que ele fará dia 23. Segundo Tedd Chapman, embaixador dos EUA em Brasília, trata-se da última chance para o Brasil mostrar serviço. “As relações entre nossos países dependerão muito dessa postura ambiental brasileira”, diz.

Bolsonaro não é um exterminador de gente apenas. Com ele e Ricardo Salles, o desmatamento da Amazônia bate recordes – só em março, 367,6 km2 de florestas foram devastados. O Ibama foi esvaziado e o presidente do Inpe, que retrata o desmatamento, demitido. Salles não teve vergonha de dar entrevistas para exaltar o papel dos madeireiros ilegais.

Sorte nossa, além dos EUA, toda a comunidade internacional está exigindo do Brasil um papel mais efetivo na defesa climática. Mais do que isso, embaixadores deixam claro que não bastarão novos discursos e promessas, o País terá de mostrar resultados concretos para voltar a ter crédito e receber a tão desejada verba dos EUA para “combater o desmatamento”.

Numa reunião preparatória para a cúpula, Salles fez uma apresentação que incluía um slide que virou motivo de chacota: um cachorro abanando o rabo diante de uma máquina de frango assado, todos com um cifrão, onde se lia “payment expectation” (expectativa de pagamento), numa referência ao dinheiro que Biden está disposto a dar ao Brasil. Os norte-americanos ficaram perplexos.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com                                                                      

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