//ANÁLISE// Doença mental e os gordos

                                                                                                                                             


Fernando Pesciotta


Quando trouxemos aqui a estimativa de técnicos envolvidos na análise da pandemia indicando que podemos ter de 5 mil a 7 mil mortos por dia, muita gente pode ter duvidado.

Mas o Brasil não é para principiantes, já dizia Tom Jobim. Bolsonaro é esforçado, está fazendo a lição de casa e vai alcançar esse objetivo.

Só não podemos perder o foco. É preciso tirar do caminho cidades como Araraquara, onde o isolamento lhe permitiu sair do colapso total e esteja há dois dias sem registro de óbitos.

Nesta terça-feira (6), graças ao esforço de gente como Bolsonaro e seus fiéis, defensores de alquimias e da aglomeração, quase batemos a meta. Foram 4.211 mortes em 24 horas. Se seguirmos os conselhos do tenente cloroquina, nada vai nos deter e conseguiremos o recorde mundial.

À noite, questionado por seus próprios idiotas, quer dizer, seguidores, no chiqueirinho do Palácio da Alvorada, sobre o número de mortes, o genocida foi direto ao ponto: morremos porque ficamos gordos.

Sim, ele disse isso. Segundo o genocida, as medidas de isolamento social deixam as pessoas mais gordas – ele mesmo ficou com uma “barriguinha”, reconheceu – e isso as torna mais vulneráveis ao coronavírus.

Se sairmos por aí, nos aglomerando, indo ao culto, se formos ao bar, às lojas, ao shopping center – importante estar sem máscara –, não vamos morrer. O vírus fica temeroso com a magreza e audácia e opta por correr atrás do gordo que está preso em casa.

É preciso professar a fé, ir ao culto, e acreditar no Brasil acima de tudo e em Deus acima de todos. Talvez isso explique por que Bolsonaro pagou R$ 3,2 milhões à TV Record – do bispo que foi tomar vacina em Miami – para a TV Brasil passar os episódios de Os Dez Mandamentos.

Uma das razões para o comportamento de Bolsonaro pode estar no fato de que, sabe-se agora, um terço dos infectados por covid-19 apresenta diagnóstico de doença mental como sequela. A constatação está na revista científica The Lancet Psychiatry, publicada nesta terça-feira.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com                                                                      

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