//PANDEMIA// Para médica serrana, só "lockdown" evitará caos

 


O sistema de saúde começa a colapsar no país e o número de mortes pode chegar a 4 mil por dia até o fim de abril. Serra Negra segue essa tendência. A ocupação dos leitos de covid-19 do Hospital Santa Rosa de Lima atingiu 100%, na quinta-feira, 18 de março.

As dificuldades do hospital na pior fase da pandemia vão além do esgotamento de leitos, informou a médica ginecologista e obstetra Daniela Biller, uma das entrevistadas do Serra Negra na Roda desta semana, que teve como tema o avanço da pandemia no país.

O programa, transmitido pela Casa da Cultura e Cidadania Dalmo de Abreu Dallari, contou também com a participação do empresário Ariel Estácio, proprietário do restaurante Alimento e Arte e administrador da Casa São Benedito.

Um dos agravantes da situação caótica do hospital é a falta de funcionários, que estão pedindo afastamento de suas atividades devido ao esgotamento físico e mental.

“O hospital é o lugar mais perigoso para você estar porque é lá o pico de transmissibilidade do vírus na cidade”, afirmou Daniela. O atendimento no Pronto Socorro, ela revela, está saturado, com um número excessivo de pacientes com sintomas gripais e à espera de testes.

A área destinada a atender os pacientes com covid-19 se tornou insuficiente. O setor de pediatria foi desativado e adaptado para atender esses pacientes. Não há mais espaço para internação de crianças. 

A direção do hospital e a Secretaria de Saúde de Serra Negra têm procurado soluções conjuntas para enfrentar o caos. A prefeitura municipal de Serra Negra informa que o governo do Estado de São Paulo vai enviar recursos para custeio de oito novos eleitos. Serão investidos R$ 300 por internação.

“O governo federal deveria ter pensando na vacinação antes do agravamento da pandemia. A vacinação no país é de apenas 5%, o que é muito pouco e dá margem para as variantes se multiplicarem”, explicou a médica.

Mas os principais responsáveis pela disseminação rápida das novas variantes, ela avalia, é a parcela da população que não respeita as medidas essenciais de segurança, como isolamento social e a máscara de proteção facial, além de desacreditar nos dados científicos e nas informações que apontam o Brasil como o epicentro mundial da pandemia.

“A culpa é do povo. É do consumidor que fecha pacote de viagem para o Nordeste porque o preço da passagem está barato. A culpa é daquele que chama os amigos para comemorar o campeonato de futebol. O vírus está comprometendo a população mais jovem. Os contaminados são assintomáticos e eles vão transmitir numa velocidade duplicada”, ressaltou Daniela.

A médica chegou a fazer um mea-culpa para explicar à população serrana que os tratamentos precoces não funcionam e que usá-los é perda de tempo e dinheiro.

“No começo fui até precursora do uso da ivermectina profilática (medidas para impedir o risco de transmissão). Hoje sabemos que não existe nem ação profilática e terapêutica da ivermectina, da cloroquina, da hidroxicloroquina”, afirmou. Essas medicações, ela explicou, foram todas descartadas.

“O zinco, a vitamina C, os polivitamínicos, obviamente vão melhorar a imunidade do paciente. Aqueles que têm o sistema imune mais fortalecido têm uma propensão menor de adquirir uma doença mais grave”, salientou. As únicas medidas eficazes para conter a disseminação e evitar o aumento dos casos graves que precisam de internação e UTI, a médica analisa, são o isolamento social, o uso de máscara e a vacinação.

Daniela Biller defende o lockdown como medida necessária por pelo menos 15 dias. ”A única saída, que é emergencial e necessária, é o isolamento domiciliar, o lockdown em algumas cidades, Estados. O fechamento tem de ser completo, não existe essa história de que o supermercado e academia podem ficar abertos. Não pode ir em lugar nenhum, senão nós vamos estar entregues ao colapso sanitário no nosso país. Aí a economia nunca mais vai se restabelecer”, alertou.

O empresário Ariel Estácio reconhece a gravidade da situação, mas teme um colapso também da economia da cidade. Ele cobra em especial do governo federal medidas econômicas para permitir que os empresários possam fechar os estabelecimentos comerciais para evitar a contaminação e obter capital de giro necessário para a retomada no pós-pandemia.

Ele lembrou que as linhas de crédito repassadas para as instituições financeiras, como o Pronampe, no ano passado, não chegaram à maior parte dos pequenos e microempresários. O número de pequenas empresas que fecharam as portas chegou a mais de 1 milhão no país.

“Eu mesmo dei entrada no Pronampe, fui aprovado e o dinheiro nunca veio, nem para o restaurante nem para a loja”, relatou. Muitos empresários da cidade, ele revela, até conseguiram os recursos, mas o valor liberado foi ínfimo, muito inferior ao que foi aprovado. 

“A responsabilidade nesse caso não é da prefeitura, mas do governo federal, que está falhando, não faz chegar nem o auxílio emergencial para os trabalhadores nem recursos para os funcionários, para que possamos atravessar isso e depois retomar, quando a pandemia esmorecer”, afirmou o empresário.

Ariel informou ainda que há inúmeros estabelecimentos comerciais fechando e que mesmo os que abriram quando a pandemia deu uma trégua já começam a fechar também. “Conversas com o pessoal dos hotéis, restaurantes e lojas indicam que a situação é muito triste”, afirmou.

Os debatedores concluíram que faltou um plano nacional de enfrentamento do covid-19 para que fossem adotadas medidas como fechamento de fronteiras e aeroportos nos momentos críticos, além de uma estratégia de aquisição de vacinas para que a vacinação ocorresse de forma mais rápida e eficiente.

Neste momento de caos no sistema de saúde, que deve levar também ao colapso  funerário, e daí à contaminação do solo, por falta de capacidade dos sistemas, concluíram os debatedores, apenas o respeito da população ao afastamento social e o uso de máscara pode servir de alento para a situação que, segundo os epidemiologistas, vai se agravar em todo país nas próximas semanas. 

Assista a seguir a íntegra do programa:




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