//PANDEMIA// Para Fiocruz, país vive maior colapso sanitário e hospitalar da história


O Boletim Extraordinário do Observatório Covid-19 Fiocruz, publicado na terça-feira, 16 de março, aponta uma situação extremamente crítica da pandemia em todo país. Na visão dos pesquisadores que a realizam, trata-se do maior colapso sanitário e hospitalar da história do Brasil.

O boletim mostra que, no momento, das 27 unidades federativas, 24 Estados e o Distrito Federal estão com taxas de ocupação de leitos de UTI covid-19 para adultos no Sistema Único de Saúde (SUS) iguais ou superiores a 80%, sendo 15 com taxas iguais ou superiores a 90%. Em relação às capitais, 25 das 27 estão com essas taxas iguais ou superiores a 80%, sendo 19 delas superiores a 90%. 

Os dados são das secretarias estaduais de Saúde e do Distrito Federal, e das secretarias de Saúde das capitais. O mapeamento traz dados obtidos desde 17 de julho de 2020. 

Em Serra Negra, de 1º de março até o dia 16, terça-feira, os casos de covid-19 aumentaram 17% - de 1.171 para 1.369 -, enquanto o número de pacientes em tratamento teve alta de 109%, passando de 45 a 94. Apenas uma morte a mais foi registrada nesse período - as vítimas fatais somam 26 na cidade desde o início da pandemia.

A fim de evitar que o número de casos e mortes se alastrem ainda mais pelo país, assim como diminuir as taxas de ocupação de leitos, os pesquisadores da Fiocruz defendem a adoção rigorosa de ações de prevenção e controle, como o maior rigor nas medidas de restrição às atividades não essenciais. Eles enfatizam também a necessidade de ampliação das medidas de distanciamento físico e social, o uso de máscaras em larga escala e a aceleração da vacinação. 

Araraquara reduz com lockdown

O município de Araraquara, em São Paulo, é apresentado no boletim como um dos exemplos atuais de como medidas de restrição de atividades não essenciais evitam o colapso ou o prolongamento da situação crítica nos serviços e sistemas de saúde. 

Araraquara vivenciou num intervalo de cinco dias (entre 1◦ e 6 de fevereiro) um crescimento rápido nas taxas de ocupação de leitos covid-19, passando da zona de alerta baixa (56%) para zona de alerta crítica (84%). Nos dias seguintes a situação só piorou, atingindo o colapso do sistema de saúde (taxa de ocupação de leitos UTI covid-19 de 100%) em 15 de fevereiro de 2021.

Este cenário não ocorreu de uma hora para outra, sendo precedido pelo expressivo crescimento de casos e óbitos ao longo de janeiro e fevereiro. Diante desta situação de saúde, o prefeito Edinho Silva (PT) aumentou as restrições para atividades não essenciais e circulação de pessoas adotando o bloqueio ou lockdown, com funcionamento apenas de farmácias e unidades de saúde de urgência e emergência a partir das 12 horas de 21 de fevereiro, um domingo. Neste período só foi permitido sair para utilizar ou trabalhar em algum dos serviços em funcionamento. O transporte público não funcionou e supermercados ficaram fechados e atendendo por delivery durante seis dias, retornando em 27 de fevereiro.

As medidas restritivas de isolamento social adotadas pela prefeitura em fevereiro, incluindo o bloqueio ou lockdown, deram resultado e fizeram cair, ao menos preliminarmente, o número de novos casos confirmados de Covid-19 e a média móvel diária neste início de março. Entre 21 de fevereiro e 10 de março (17 dias), a média móvel diária de novos casos de Ccvid-19 caiu de 189,57 para 108, uma redução de 43,02%. 

Em relação às internações, como já era esperado, os efeitos não foram imediatos, tendo sido registrado, em 25 e 26 de fevereiro, o maior número de pacientes internados por covid-19 no município (247 pacientes internados) desde o início da pandemia, representando um aumento de 13,3% em relação ao dia em que foi decretado o bloqueio ou lockdown. Catorze dias após ter atingido esse pico, e 17 dias depois do decreto de bloqueio ou lockdown, houve redução de 28,34% em relação ao pico registrado no número de internação de pacientes com covid-19 no município. 

Entre a semana epidemiológica que vai de 15 a 21 de fevereiro (início do lockdown), e a que vai de 1º a 7 de março (14 dias depois), houve uma redução de 28,78% de novos casos por semana epidemiológica.

O município de Araraquara é um dos exemplos de como medidas de restrição de atividades não essenciais podem evitar o colapso ou mesmo prolongamento desta situação nos serviços e sistemas de saúde, resultando na redução da transmissão, casos e óbitos, protegendo a vida e saúde da população.

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