//OPINIÃO// Insano é não ter auxílio emergencial nem vacina



Salete Silva

Em um grupo de WhatsApp de comerciantes da cidade um empresário serrano se referiu ao Viva! Serra Negra como o “jornaleco da Salete insana - joga contra o patrimônio e o município”.

Usou esses termos para comentar a reportagem publicada na quarta-feira, 24 de março, sobre a manifestação dos lojistas contra o fechamento dos estabelecimentos comerciais.

Não é a primeira vez que recebemos, incluindo deste mesmo comerciante, críticas agressivas na tentativa de depreciar e desacreditar este veículo de comunicação e em particular, minha pessoa e meu trabalho. Aliás, políticos contrários a conteúdos do Viva! Serra Negra já o definiram até como “jornalismo recreativo” na mesma tentativa de desqualificação.

Perdi a conta das ameaças, agressões e até interpelações de meus familiares feitas por pessoas incomodadas com a linha editorial e com sua produção de conteúdo, que no próximo mês completa dois anos.

Pode até ser que a tarefa de oferecer informação desvinculada de interesses pessoais, da iniciativa privada e do setor público locais pareça insanidade para segmentos da sociedade serrana que esperam da imprensa submissão aos grupos econômicos ou ao poder público em detrimento do que importa para a maior parte da população.

Mas insana, como qualificou o comerciante, me parece ser mesmo uma sociedade que se digladia nas ruas quando deveria estar unida para preservar as vidas e garantir a sobrevivência econômica de todos os cidadãos da comunidade.

Cenas vistas nas ruas de Serra Negra durante a manifestação são o retrato, infelizmente, de um dos momentos mais tristes da história do país. Se a pandemia de covid-19 vai entrar para o mundo como um das maiores crises sanitárias da humanidade, para o Brasil vai entrar na história como um episódio de crime humanitário decorrente da total ausência do Estado.  

Ultrapassamos os 300 mil óbitos numa situação ainda de aceleração das mortes diárias, que podem chegar a 4.000 até o fim do próximo mês. Ausente completamente de suas atribuições, o governo federal obriga o cidadão escolher entre correr o risco de morrer de covid-19 ou morrer de fome, ao contrário do que fizeram países em que o Estado assumiu a responsabilidade de proteger e prover seus cidadãos durante a pandemia.

O Estado tem de garantir o alimento básico para que seus cidadãos possam fazer o distanciamento social necessário para sua sobrevivência e agir com rigor, aplicando punições e multas, aos que descumprirem a legislação, colocando em risco sua própria vida e a de toda a comunidade.

A maior parte dos países adotou programas de transferência de renda para garantir que seus trabalhadores fiquem em casa. Essas nações vão se endividar, aumentar o déficit público, que como no Brasil pode chegar a 100% do Produto Interno Bruto, ou ultrapassá-lo, mas mesmo assim vão usar os recursos provenientes dos impostos para manter os trabalhadores em casa.

É óbvio que em todo o mundo os países se preocuparam com os custos fiscais, com aumento de dívida, mas o Brasil é praticamente uma exceção ao tratar essa questão sem levar em conta os impactos da pandemia no mercado de trabalho, na renda do cidadão, assim como foi exceção ao não entender de imediato que a vacinação, o isolamento social e o uso de máscaras são a combinação certeira para conter a pandemia.

Essa apatia do Estado se reflete nas ruas, sem querer entrar no mérito político, que dá linhas para um outro artigo sobre o negacionismo e as distorções da classe média que deveria estar brigando por linhas de crédito que ficaram paradas nos bancos, engordando os lucros financeiros dessas instituições enquanto mais de 1 milhão de microempresários fecham as portas.

O auxílio emergencial, que deveria ter sido aprovado há dois meses, não vai nem servir para resolver o problema fiscal nem o da miséria e pobreza do país. Segundo os especialistas, a economia de R$ 150 bilhões em dez anos pretendida pelo ministro Paulo Guedes não está garantida. O auxílio emergencial médio de apenas R$ 250 mensais para 44 milhões de pessoas vai injetar R$ 44 bilhões na economia, insuficientes para proteger a população, prover os mais necessitados e ajudar a economia a girar.

Os recursos públicos, dinheiro proveniente de seus impostos como gostam de dizer os brasileiros, teriam de ser destinados agora para a vacina e o auxílio emergencial. 

O comerciante prefere chamar de insana a jornalista que mostra essa realidade e se entristece em ver a cidade dividida a considerar insano o presidente da República que se omite e os obriga escolher entre morrer contaminado ou morrer de fome.

Comentários

  1. Perfeito. Total apoio a Salete Silva. Parabéns por sua coragem, fidelidade à profissão e, principalmente, por sua SANIDADE em analisar e divulgar os fatos como eles são. Coisa rara nestes dias sombrios e cada vez mais insanos que o país enfrenta. SOMOS TODOS SALETE SILVA!

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  2. Perfeito!!! Total apoio a Salete e ao Viva Serra Negra!!! A cidade e estes comerciantes se acostumaram por anos pelo mais antigo jornal da cidade, publicar amenidades e nunca ir a fundo ou expor os problemas do município, para não se indispor com A ou B. E há muito tempo precisávamos de uma mídia imparcial e que desse voz a todos, independente de classe social. Bem ao contrário o referido jornal impresso, onde normalmente só os mais "abonados" tinham vez. Apoiado!! E se houver ameaças, dessa vez vá até o final e não retire as queixas e o processo, por um simples e falso pedido de desculpas, como aconteceu da outra vez!!!

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