//ANÁLISE// A culpa é nossa

                                                                                                                        


Fernando Pesciotta


Sob Jair Bolsonaro, está difícil encontrar boas notícias para comentar. Síntese da situação do Brasil, esta quarta-feira (3) foi uma tragédia em todos os sentidos.

Além de mais um recorde de mortes pelo coronavírus, com 1.840 óbitos, e um colapso generalizado, descobrimos que a economia teve o pior tombo em 30 anos, que despencou o consumo das famílias brasileiras, o Brasil deixa de ser uma das dez maiores economias do mundo, que as intervenções de Bolsonaro se revertem em inflação e que o mercado de trabalho tem um futuro desafiador, para dizer o mínimo.

Os analistas são unânimes em dizer que as projeções para a economia indicam que 2021 voltará a ser desanimador, por absoluta falta de planejamento e iniciativas governamentais.

Pode-se projetar a permanência neste ano de um "estado de recessão" que, a rigor, já se mantém por mais de uma década, aponta José Paulo Kupfer, no UOL, resumindo o pensamento dos economistas.

Até mesmo no governo se admite que 2021 começou muito pior do que se esperava. E fica imprevisível pelo agravamento da pandemia.

Para Silvia Matos, do Ibre-FGV, a chance de alguma recuperação, só no segundo semestre.

O que chama atenção nos dados divulgados junto com a queda de 4,1% do PIB em 2020 é o desequilíbrio entre os setores produtivos, o que dificulta correção de rumo no conjunto da economia.

Além da falta de planejamento, da ausência de governo para conduzir a reação da economia, a gestão da saúde pública é um desastre que só faz afundar os indicadores.

Com os hospitais lotados, explosão de novos casos de covid-19, a saúde colapsada e sucessivos recordes de mortos, os governadores adotam medidas restritivas. Em vez de fazer sua parte, porém, Bolsonaro culpa a imprensa, que “cria pânico”.

Em entrevista levada ao ar em maio de 1999, quando estava nas profundezas da Câmara dos Deputados – de onde nunca deveria ter saído –, Bolsonaro disse que os problemas do Brasil só seriam resolvidos com uma guerra que matasse uns 30 mil brasileiros.

Ele se superou. Vai matar mais de 300 mil e lidera uma legião de estúpidos que menosprezam a pandemia e combatem a vacina. Repercute na imprensa e nas redes sociais post da ex-jogadora de vôlei Ana Paula Henkel. Na ânsia de seguir a orientação bolsonarista, ela deturpa informações para dizer que a vacina mata.

A culpa é nossa, que elegemos um líder ignorante, mentiroso, negacionista, um genocida nazista, e o deixamos lá. Por falta de governo, o País tem um rumo: a escuridão eterna.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com                                                                      

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