//ANÁLISE// Novos inimigos do bolsonarismo

                                                                                                                       


Fernando Pesciotta


Nós, brasileiros, nos achamos entendidos de algo do qual não entendemos nada. Medicina, futebol, psicologia e direito são temas corriqueiros nas redes sociais, em geral com bobagens, mau uso da gramática e completo desconhecimento da causa.

Um exemplo superatual é a decisão da Segunda Turma do STF nesta terça-feira (9), que liberou o compartilhamento das mensagens vazadas da Lava Jato com a defesa do ex-presidente Lula.

O que se viu nas redes é uma enxurrada de comentários alimentados pela ignorância.

Vale lembrar que o insuspeito The New York Times, o mais prestigiado jornal do mundo, considerou a Lava Jato “o maior escândalo judicial da história da humanidade”.

A decisão da Corte, de qualquer forma, visa, dentro dos preceitos constitucionais e do direito penal, assegurar a imparcialidade de qualquer julgamento, de Lula, meu, do caro leitor, da cara leitora, do PT ou do Bolsonaro. A regra do jogo e a lei devem servir para todos.

Alguns comentários consideram absurdo autorizar o uso de mensagens “roubadas”, ou seja, adquiridas de forma ilícita e fruto de um crime. Pois uma coisa não tem nada a ver com a outra. Aqui e até em países civilizados essa prerrogativa de defesa é autorizada.

Além disso, o próprio Moro defendeu a tese de que provas adquiridas de forma ilícita são válidas. Ele a utilizou em seus julgamentos e a propôs nas tais Dez Medidas Anticorrupção – era a medida número sete.

“Propõe uma série de alterações no capítulo do Código de Processo Penal que trata de nulidades, com o objetivo de que a anulação e a exclusão da prova somente ocorram quando houver uma efetiva e real violação de direitos do réu. Busca-se evitar que o princípio da nulidade seja utilizado pela defesa para retardar ou comprometer o andamento do processo”, descreve o site do Ministério Público.

Abusar das bobagens até que elas virem arma política por meio de mentiras repetidas em massa tornou-se uma estratégia de Bolsonaro. Foi assim que ele chegou ao Planalto e é assim que ele governa (?). Essa estratégia passou a ser combatida pelas plataformas, e por isso viraram inimigas do bolsonarismo.

Parlamentares e ministros abriram uma ofensiva com projetos de lei para impedir a remoção de conteúdos de redes sociais e até de pedidos de explicação e investigação sobre bloqueios de contas.

Isso ocorre após Facebook, Twitter e YouTube adotarem medidas para restringir fake news e cancelarem perfis que expõem mentiras, teorias da conspiração e desinformação. Os fundamentalistas ficaram sem ação.

Em tempo: em plena pandemia, cadê o ministro da Saúde?  

--------------------

Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com                                                                      

Comentários