//ANÁLISE// Em vez de vacinas, armas

                                                                                                                           


Fernando Pesciotta


O Brasil bate sucessivos recordes de mortes por covid-19 na média diária, ao mesmo tempo em que vê o capitão cloroquina provocar aglomerações e dispensar o uso de máscaras. Um genocida.

Paralelamente, o capitão cloroquina assina quatro decretos que ampliam o uso e porte de armas. Os textos permitem que cada cidadão tenha seis armas, que policiais tenham duas outras de uso restrito, facilitam a aquisição de armamento pesado para além do Exército. Claramente, os decretos favorecem as milícias, o berço de Bolsonaro e sua principal atividade.

Do ponto de vista prático, os decretos insanos vão causar mais mortes no País. Do ponto de vista político, favorecem a formação da Gestapo bolsonarista. É mais um passo para o autogolpe.

As mazelas se acumulam em todas as frentes. Há poucos dias, a economista-chefe do Banco Santander expôs uma tenebrosa previsão: o País corre sério risco de convulsão social ainda neste primeiro semestre, por causa da gravidade da situação econômica, do avanço da fome, do desemprego e da falta de perspectiva provocada pelo inexistente programa de vacinação.

Como disse Dráuzio Varella, não temos um programa, o que há é uma enorme bagunça. Prova dessa incompetência é que o Rio de Janeiro e Salvador ficaram sem a vacina que deveria ser distribuída pelo governo federal e suspenderam a imunização.  

Os investimentos do Ministério da Educação no governo do capitão cloroquina foram os menores da década. Nesses dois anos, apenas 10% do orçado acabou executado, levando instituições de ensino ao estrangulamento financeiro.

A não execução orçamentária fere mortalmente as pesquisas desenvolvidas pelas universidades federais. No Brasil, praticamente inexiste pesquisa em instituições privadas. Mesmo empresas acabam surfando no resultado de estudos feitos por instituições públicas.

A aplicação orçamentária da Educação vinha numa ascendente desde 2004, passando de 3,9% do PIB para 5,2% em 2016. Essa tendência foi interrompida na gestão do cloroquina, que sumiu com programas como o Sisu e de aperfeiçoamentos em outros países. Para o fundamentalismo bolsonarista, aluno de baixa renda estudar no exterior é turismo.

A lógica do governo bolsonarista parece ironicamente coerente. Não há necessidade de investir em coisas como educação, pois não haverá muitos brasileiros vivos nos próximos anos para ter de estudar.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com                                                                      

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