//ANÁLISE// Bolsonaro na mais velha política

                                                                                                                


Fernando Pesciotta


A semana que abre o mês de fevereiro marca a reabertura do Congresso, promete ser quente e pode definir o futuro do governo de Jair Bolsonaro, que tende a promover nos próximos dias uma reforma ministerial, ampliando o número de ministros a serem entregues ao Centrão.

O ainda presidente da Câmara, Rodrigo Maia, pressionado por legendas aliadas e diante da decisão do DEM de abandonar o apoio a Baleia Rossi, anunciou que pode decidir pela abertura de processo de impeachment e deixar a legenda.

Tudo indica que Arthur Lira será eleito presidente da Câmara, graças ao dinheiro e cargos distribuídos por Bolsonaro, que não escondeu a intenção de criar ministérios para abrigar todos os amigões do peito. Lira, investigado, denunciado e acusado de corrupção, é seu velho companheiro nas profundezas da Câmara.

O alinhamento do Centrão com Bolsonaro vai inibir o afastamento do presidente e produzir reformas que não necessariamente serão vantajosas para a sociedade, já que serão boas para o empresariado.

Caberá ao Congresso também o exame de propostas para a retomada do auxílio emergencial ou outro programa social que alivie a pobreza.

Afinal, o Brasil começou o ano com mais miseráveis do que há uma década. Em janeiro, 12,8% dos brasileiros passaram a viver em condições de miséria, ganhando menos de R$ 246 por mês, indica a FGV Social.

A pandemia e a falta de iniciativa do governo têm contribuído para elevar a desigualdade no País, avalia Marcelo Neri, diretor da FGV Social.

Outro entrave é a demora e a desorganização do programa de vacinação contra o covid-19, que causam prejuízo bilionário ao Brasil. Cálculos da consultoria LCA indicam que se 70% dos brasileiros fossem vacinados até agosto, o PIB poderia crescer 5,5%.

Como esse nível de imunização é previsto só para dezembro, o avanço deve perder dois pontos porcentuais, o que corresponde a perda de R$ 150 bilhões.

No espectro institucional, Bolsonaro vai atrás da guarida do Centrão. No paralelo, voltou a investir pesado no gabinete do ódio. Cresce assustadoramente nos últimos dias a distribuição de mensagens de fake news, com conteúdo tão absurdo quanto a situação que vivemos.

Uma dessas mensagens “informa” que, segundo a “competente” Polícia Federal, um fundo de investimentos que tem o filho de Lula como principal ”societário” se juntou a João Doria na compra de ações da CoronaVac.

Outra mensagem abusa da falta de fontes para dizer, entre outras barbaridades, que foi um “navio fantasma da esquerda” que derramou óleo nas praias do Nordeste em 2019. Só não explica por que até hoje o governo não tem nenhuma indicação de responsabilidade desse crime.

Com a vitória do Centrão em troca de cargos na mais velha política toma lá, dá cá, e com a retomada da indústria de fake news que tem na tropa fundamentalista criminosos suficientes para mantê-la viva, vamos assistir à inépcia, incompetência e irresponsabilidade do governo genocida por muito tempo ainda.

 -------------------

Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com                                                                      

Comentários