//POLÍTICA// É preciso construir pontes para reduzir a polarização, diz cientista político

Vinícius do Valle: Serra Negra não é muito diferente do conjunto das cidades do interior paulista

O país vive um momento em que é difícil as pessoas falarem com as outras não apenas sobre religião, mas sobre qualquer outro assunto, e em cidades do Interior como Serra Negra, essa polarização é grande, porque há uma presença conservadora muito forte.

Essa foi uma das observações feitas pelo doutor e mestre em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP) e graduado pela mesma universidade em ciências sociais, Vinícius do Valle.

O serrano foi o primeiro entrevistado de 2021 do programa Serra Negra na Roda, transmitido nesta quarta-feira, 20 de janeiro, pela página do Facebook da Casa da Cultura e Cidadania Dalmo de Abreu Dallari.

“Serra Negra não é muito diferente do conjunto das cidades do interior paulista de forma geral, que costuma ter comportamento bastante conservador e guiado por indicação de líderes religiosos e de certas figuras de poder locais, famílias, políticos que controlam uma área, quase como se a gente tivesse num período coronelista”, afirmou.

Vinícius comparou o cenário serrano com o apresentado pelo escritor Victor Nunes Leal no livro "Coronelismo, Enxada e Voto". Ele lembrou, no entanto, que é preciso estabelecer um diálogo e criar pontes para enfrentar a polarização e encontrar convergências.

“Existe um trabalho político, social, pedagógico, muito grande para ser feito no Interior, que envolve criar pontes, entender o outro, respeitar esses pontos de vista ou as bases desses pontos de vista, mas é um trabalho grande e urgente”, afirmou.

Faltam às cidades do interior de São Paulo, em especial em cidades pequenas como Serra Negra, segundo o cientista político, figuras de referência que mostram que não existe um único jeito de pensar, que há outras causas e que as questões podem ser vistas por outro ponto de vista. “Por isso, acho que a iniciativa de vocês é muito importante e que o trabalho que vocês fazem pode ter certeza de que é importantíssimo”, afirmou.  

Autor, entre outras obras, de "Entre a Religião e o Lulismo", publicado pela Editora Recriar em 2019, Vinícius realizou, entre 2011 e 2017, um amplo trabalho de pesquisa em uma pequena unidade da igreja Assembleia de Deus, no bairro de Campo Limpo, periferia da capital de São Paulo.

A religião, Valle relatou, está tomando uma centralidade até então não vista no debate público e nas eleições. Seu projeto de mestrado inicialmente visava estudo de caso baseado na Assembleia de Deus, a maior denominação evangélica do país.

O trabalho se estendeu para a tese de doutorado defendida em 2018, que deu origem ao livro lançado em 2019. A obra faz uma reflexão política sobre a religião, classificando esses grupos e analisa a ação dos evangélicos nas eleições de 2012, 2014 e 2016.

“Consegui fazer um panorama amplo desse cenário da política, observando de dentro. Muitos estudos já tratavam dos evangélicos, mas não tão de dentro e uma das coisas interessantes é a abordagem metodológica, em que associei dados macros com quantitativos, qualitativos, fiz muitas visitas, visitei muita igreja, fui a cultos, entrevistei fiéis e pastores”, relatou.

Durante a entrevista, Vinícius relata como as transformações ocorridas no meio evangélicos tornaram esse grupo religioso mais conservador, mais antilulista apesar de seus membros pertencerem às classes sociais baixas, terem usufruído dos programas de transferência de renda dos governos petistas, e foram influenciados pelas indicações de votos das igrejas, que têm interesses em especial nas pautas que garantem o seu fortalecimento.

Assista abaixo a íntegra da sua entrevista:



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