//ANÁLISE// O medo que bate no Planalto

                                                                                                         


Fernando Pesciotta

Assessores de Jair Bolsonaro reconhecem que ele poderá ser responsabilizado legalmente por eventual falta de vacina contra o covid-19. Levantamentos da mídia indicam que o País não tem imunizante suficiente nem para a primeira fase.

É de conhecimento público que os insumos estão parados na China desde dezembro por causa da má vontade do governo com os chineses, das críticas recorrentes da família Bolsonaro ao país e da política terraplanista da diplomacia do Itamaraty bolsonarista.

Diante do desastre que ele mesmo provocou, bateu o desespero e nesta quarta-feira (20) Bolsonaro tentou falar com o presidente da China, Xi Jinping. Claro que não conseguiu.

Além disso, o mercado financeiro emitiu sinais muito claros de que a melhor política econômica nesse momento, capaz de assegurar a retomada do crescimento, é a vacina.

Ninguém no governo Bolsonaro tem interlocução com os chineses. Aliás, não tem interlocução com nenhum dirigente internacional desde ontem, quando Donald Trump foi defenestrado da Casa Branca.

A realidade deve ter batido à porta do Planalto. Logo após a posse de Joe Biden, Bolsonaro lhe mandou uma mensagem mencionando a “alta estima” pelo novo presidente, citou a “preservação ambiental” e insistiu em “manter a parceria”.

A carta é quase um pedido veemente para o americano esquecer todas as sandices que Bolsonaro disse nos últimos meses. Bolsonaro afirmara que se o Acordo de Paris fosse bom Trump não teria saído, acusou a vitória de Biden como resultado de fraude eleitoral, defendeu a invasão do Congresso comandada por Trump e falou até em guerra contra os EUA pela insistência de Biden em querer preservar a Amazônia.

A carta é uma humilhação total e mais uma demonstração do medo que bate na porta da frente do Planalto. Se o documento for de fato a nova orientação da política externa, o sinistro de Relações Exteriores, o terraplanista Ernesto Araújo, terá de ser defenestrado.

Bolsonaro se coloca de joelhos num momento de fragilidade interna, mas sem deixar de lado as ameaças de golpe, agora via decretação de estado de defesa.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com                                                                      

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