//OPINIÃO// Desafio para novo prefeito será criar empregos e reduzir pobreza



Salete Silva

Elmir Chedid (DEM), que vai assumir a Prefeitura de Serra Negra em 1º de janeiro, se mostrou tranquilo quando na sabatina promovida pelo Viva! Serra Negra, durante a campanha eleitoral, foi questionado sobre como equacionaria no município a atividade econômica e a pandemia assim que tomasse posse, caso fosse eleito.

O então candidato avaliou que, como a economia brasileira é robusta, apesar da crise econômica, a recuperação seria em V, ou seja, uma queda rápida do nível de atividade, seguida de uma alta na mesma intensidade.

Lembrou ainda que a situação da pandemia no país e no município estava mais tranquila na época e enfatizou que até então havia apenas um óbito provocado pelo covid-19 no município

Prevendo que o pior da pandemia já teria sido superado no início de 2021, pela diminuição das infecções e proximidade da chegada da vacina, seus planos eram de investimento em infraestrutura e geração de empregos no médio e longo prazos.

Seu otimismo com relação à retomada, compartilhado por outros candidatos à prefeitura que também relativizaram a gravidade da pandemia, se revelou um pesadelo com o aumento dos casos de infecção e óbitos no pós-eleições, que já eram previstos desde então por virologistas e infectologistas.

O município computa quatro óbitos e quase 600 casos de infecção em meio a uma subnotificação de dados não só em Serra Negra, mas em todo o país.

Empresários e trabalhadores serranos ficaram em casa e seus estabelecimentos comerciais fechados num período crucial para o comércio e o turismo.

O retorno à fase vermelha do Plano SP de combate à pandemia neste fim de ano afetou a todos, mas os maiores prejudicados são e continuarão sendo os trabalhadores e a população mais pobre.

Neste mês se encerra o auxílio emergencial que garantiu alguma renda aos empregados, principalmente aos sem registro em carteira ou aqueles que nos últimos anos vêm sendo chamados de empreendedores.

Além disso, se encerra neste mês o programa de seguro-desemprego que garantiu alguma estabilidade a parte dos trabalhadores empregados com carteira assinada.

Expira também o decreto federal que reconhece o estado de calamidade pública, que permitiu aumento dos gastos dos governos e prefeituras e o descumprimento de metas fiscais para custear ações de combate à pandemia.

O auxílio emergencial injetou R$ 50 bilhões por mês no país, levando alguma renda a mais de 65 milhões de brasileiros. Em Serra Negra quase 8 mil pessoas foram beneficiados com os R$ 18,5 milhões injetados pelo benefício no município, que ajudaram a manter a economia da cidade.

O auxílio emergencial foi fundamental para evitar uma queda mais brusca da atividade econômica. Mas ainda assim o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro deverá fechar 2020 com uma queda de 5%.

A taxa de desemprego no país está batendo nos 15%, enquanto 53% da mão de obra em idade economicamente ativa do país está desempregada.

Os dados de inflação também revelam que mais uma vez a classe trabalhadora e a população das faixas de renda mais baixa são os que mais sofrem com os aumentos de preços concentrados em especial no item alimentação e produtos de primeira necessidade.  

Dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostram que a inflação acumulada em 12 meses para as famílias com renda inferior a R$ 1.650,00 mensais foi de 5,8%, quase o dobro da inflação das famílias mais ricas, com renda acima de R$ 16.509,66, que ficou em 2,69% no período.

A recuperação em V citada por Chedid é uma ilusão vendida pelo ministro da economia, Paulo Guedes, que antes de sair para suas férias, que só se encerram em 7 de janeiro de 2021, repetiu insistentemente aos jornalistas que a vacinação fará a economia decolar no próximo ano, sem necessidade de renovar o auxílio emergencial ou tampouco adotar algum tipo de renda básica.

Mais uma enganação para continuar batendo na tecla do teto do gasto, que desde 2015 seria o que traria investimentos ao país. A fada da confiança, que recompensa governos com grande responsabilidade fiscal, honrando cortes de gastos públicos, não fez mágicas até agora. O que traz de fato investimentos é economia aquecida, não mágica.

O prefeito Sidney Ferraressso (DEM), que deixa o cargo nos próximos dias, se gabou em uma das últimas sessões da Câmara Municipal que, ao cumprir a responsabilidade fiscal, deixou alguns “milhões” em caixa para seu sucessor.

Os serranos responderam nas redes sociais a Ferraresso, indagando por que em vez de deixar os recursos em caixa, o prefeito não investiu mais na saúde, setor que recebe mais críticas da população, e na criação de postos de trabalho para empregar parte dos cerca de 300 trabalhadores que perderam emprego após a pandemia.

Estão aí boas dicas da população para Chedid, que estará ocupando a cadeira de prefeito na próxima semana e terá como maiores desafios aquecer a economia e cuidar da saúde dos serranos em 2021.

Médicos e infectologistas preveem para o próximo ano desafios ainda maiores na área da saúde. Os investimentos vão estar limitados pela lei do teto do gasto e pressionados tanto pelo aumento dos casos de covid-19 quanto pela demanda de pacientes impossibilitados de trabalhar devido às sequelas da doença, que já têm levado países, como a França, a estudar a criação de medidas para garantir alguma renda e a continuidade de tratamento aos doentes sequelados.

Mais pobre e desigual, o Brasil e Serra Negra, que não é uma ilha separada do resto do país, vão precisar que as autoridades públicas em 2021 usem como nunca os recursos públicos para reduzir as desigualdades, diminuir a pobreza e promover justiça social.

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