//ANÁLISE// Negócios de família

                                                                                      


Fernando Pesciotta


No ano passado, quando queria mandar Eduardo Bolsonaro ser embaixador nos EUA, Jair Bolsonaro disse que, se puder, dá só filé mignon para seus filhos. E pelo menos essa promessa ele está cumprindo com rigor.

Flávio herdou as rachadinhas e papai lhe deu de presente uma mudança de estratégia de governo para poder livrá-lo da Justiça. Carlos administra a verba para a compra de apoiadores e terroristas digitais. Os três têm, ainda, o lucro da operação da milícia no Rio de Janeiro.

Agora, descobre-se que o 04, Renan Bolsonaro, também está comendo bastante filé mignon.

Depois de ganhar um bom dinheiro fazendo lobby de games, cuja indústria acabou sendo beneficiada com eliminação de carga tributária, Renan Bolsonaro lançou uma empresa de eventos.

A festa de lançamento da Bolsonaro Jr Eventos e Mídia contou com um esquema profissional de gravação, vídeo e divulgação nas redes sociais. A versão oficial é de que esse trabalho foi feito gratuitamente pela Astronautas Filmes.

Como dizem por aí, não existe almoço grátis. A Astronautas tem um contrato milionário com o governo de papai Bolsonaro. Segundo a Folha, só neste ano ela recebeu R$ 1,4 milhão do governo Bolsonaro.

O site da produtora inclui o governo federal entre seus clientes. O dono da empresa, Frederico Borges de Paiva, aparece em fotos ao lado do príncipe Renan e do deputado Hélio Lopes, o “Hélio Negão”, o parlamentar mais próximo dos negócios da família Bolsonaro.

Enquanto a pandemia contabiliza quase 180 mil brasileiros mortos, a Astronautas Filmes recebeu R$ 642 mil do Ministério da Saúde. Do Ministério da Educação recebeu outros R$ 730 mil. A empresa também produziu vídeos para o Ministério do Turismo e para o programa Pátria Voluntária, “coordenado” por Michelle Bolsonaro. Estes dois órgãos se negaram a revelar os valores pagos.

Fornecedor de serviços ao setor público é proibido de fazer favor ou de dar presentes aos contratantes, por caracterizar crime de corrupção. O que se depreende nesse caso é que Bolsonaro está usando recursos públicos para benefício de seus filhos.

Turismo

O filé mignon não para por aí. A demissão do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, aquele das candidatas laranja para angariar verba pública para a campanha eleitoral, abre espaço para mais presentes ao clã Bolsonaro.

No começo da tarde desta quarta-feira, 9 de dezembro, Eduardo Bolsonaro anunciou, nas redes sociais, que o presidente da Embratur, Gilson Machado, assume o ministério.

Nunes é sanfoneiro, fazendeiro e amigo dos filhos de Bolsonaro. É ele quem aparece em live de Bolsonaro, em junho, tocando e desafinando "Ave Maria".

No dia 3, Gilson fez um discurso contra o distanciamento social e debochou da pandemia. Ele fica no cargo até a reforma ministerial no começo do ano, quando o Centrão será o alvo dos presentes de Bolsonaro.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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