//ANÁLISE// Governo Bolsonaro politiza a vacina

                                                                                     


Fernando Pesciotta


A reunião do ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, com governadores nesta terça-feira, 8 de dezembro, serviu para mostrar como o governo Jair Bolsonaro politiza questões tão importantes para a vida dos brasileiros como a vacinação contra o covid-19.

O general se revelou sem plano, sem autoridade e sem preparo para lidar com a questão, mas preocupado em desfazer a imagem de incompetente e indiferente que Bolsonaro criou na gestão (?) da crise. Pazuello disse que “haverá vacina se houver demanda” e que uma decisão de compra da CoronaVac depende de consulta a Bolsonaro.

Perguntado sobre documento assinado em outubro que previa investimento do governo na vacina, Pazuello respondeu que era apenas um memorando de intenção. Acrescentou que “quando a vacina for aprovada, precisará consultar Bolsonaro”.

“O ministro disse que precisa saber se a Anvisa vai autorizar e, se tiver demanda, tem aquele período de 60 dias. E afirmou que só se poderá falar em vacina no final de fevereiro, ou seja, desautorizando o calendário de [João] Doria. Está claro que há uma disputa política”, relatou o governador do Maranhão, Flávio Dino.

A reunião foi tensa, porque os governadores não aceitam esse grau de politização, e marcada por bate-boca do ministro com João Doria. O governador cobrou apoio para a CoronaVac e diante da resposta do general, disse que ele e Bolsonaro atuam de forma ideológica.

Não acredita? Ouça aqui .

Enquanto isso, o número de mortos em 24 horas sobre para 796 e a média móvel de mortes é a mais alta desde 10 de outubro: 603. O total de óbitos vai a 177.388. Com balada liberada e praias lotadas, Santa Catarina vive o pior momento da pandemia. Nestes 8 dias de dezembro, são 177 mortos.

Na Inglaterra, onde Boris Johnson desistiu de ser Donald Trump, a vacinação já começou e o país vive uma euforia.

Emendas atreladas a voto

Bolsonaro foi eleito com a bandeira da nova política. Azar de quem acreditou. Ele faz a mais velha política, ao grau máximo do toma lá, dá cá.

Além de avaliar uma reforma ministerial para atrair votos do Centrão à candidatura de Arthur Lira ao comando da Câmara, o Planalto tem associado a liberação de recursos de emendas parlamentares ao apoio ao candidato de Bolsonaro.

Líderes e até deputados governistas relatam que foram orientados a buscar Lira para definir a liberação de verbas vinculadas a oito ministérios. Verbas que já tinham sido prometidas e orçadas.

Já pensou o que aconteceria se um governo de esquerda fizesse metade do que Bolsonaro está fazendo?

Elite pouco contributiva

Um ranking elaborado pela Universidade Saint Gallen, da Suíça, coloca o Brasil na sexta pior posição entre os países onde a elite cria valor para a sociedade.

A lista é encabeçada por Singapura, Alemanha, Reino Unido, EUA e países escandinavos. O Brasil fica atrás de Arábia Saudita, México, Rússia, Índia e Botsuana.

As elites de alta qualidade executam modelos de negócios que criam valor, ou seja, dão mais à sociedade do que recebem. As elites de baixa qualidade fazem o oposto e operam modelos de extração de valor. É o caso da nossa elite, coincidentemente bolsonarista.


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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

Comentários

  1. Ah, mas o "presidente " zerou os impostos para a importação de armas. Todos agora podem se matar uns aos outros com armamentos gringos mais sofisticados. Ninguém precisa mais esperar pra morrer de Covid!

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