//ANÁLISE// Bolsonaro contra a vacina

                                                                                    


Fernando Pesciotta


Por mais que faça declarações públicas a favor, Jair Bolsonaro age intensamente para impedir o avanço da vacina contra o covid-19.

Exemplo disso é que o governo optou pela menor cobertura possível na aliança mundial de vacinas, a Covax, como revela o UOL. A iniciativa dava a possibilidade para que governos fizessem uma solicitação de vacinas que poderia atender de 10% a 50% da população. O Brasil solicitou a menor taxa de cobertura, de 10% dos brasileiros.

O governador João Doria anunciou ontem que a CoronaVac começará a ser aplicada no Estado em 25 de janeiro. Imediatamente, a Anvisa alertou para o fato de a vacina ainda não ter sido aprovada. Alega, ainda, que o Instituto Butantan não encaminhou os dados da fase 3 de testes e que o relatório da inspeção na fábrica da Sinovac só deverá ficar pronto dia 11 de janeiro.

Simultaneamente à manifestação da Anvisa, jogando água na fervura de Doria, Bolsonaro postava no Twitter que qualquer vacina com aval da Anvisa será ofertada a todos os brasileiros de graça. Mero jogo de cena.

O anúncio de Doria tem forte apelo, daí a reação de Bolsonaro. No Facebook, textos do UOL, Estadão e G1 sobre o plano de vacinação no Estado atraíram mais de 101 mil interações.

Poucas horas antes da manifestação oficial da Anvisa, a agência de notícias Reuters havia publicado reportagem revelando que Bolsonaro atua fortemente para garantir o controle da agência sanitária e, com isso, deter o controle do processo de vacinação.

Para tanto, Bolsonaro reforçou a indicação de militares fiéis ao governo para ocuparem as diretorias da Anvisa. A reportagem lembra que em 12 de novembro, Bolsonaro indicou o tenente-coronel reformado do Exército Jorge Luiz Kormann para assumir uma das cinco diretorias da Anvisa.

Sem experiência em medicina, Kormann, que já exerce um cargo político no Ministério da Saúde, deve liderar a unidade encarregada em dar sinal verde aos imunizantes. Outras duas diretorias já estão com militares indicados por Bolsonaro.

Não foi por acaso, portanto, que o principal executivo da Anvisa, Antonio Barra Torres, de forma irônica desejou boa sorte a “quem marca data para vacina”. Torres tem formação no hospital da Marinha.

Especialistas temem que a resistência de Bolsonaro se infiltrará na Anvisa, minando a credibilidade e alimentando o crescente fervor antivacinas no País.

Nesta segunda-feira, 7 de dezembro, o presidente do PTB, Roberto Jefferson, aliado e ferrenho defensor de Bolsonaro postou que “os globalistas preparam uma vacina para mudar nosso DNA, que nos foi dado por Deus. Esse Bil (sic) Gates é um assassino, genocida, satanista. Ele quer matar milhões de pessoas e trocar o nosso DNA pela marca da Besta. Ele é um demônio!”.

Vácuo

Com essa disputa política e as inações do governo, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, anuncia que o Congresso vai discutir um calendário para a vacinação, alegando risco de haver “pânico” na sociedade. Maia considera que o ideal é ter o Executivo junto nesse processo, mas se o governo não tomar iniciativas, o Congresso o fará.

Perguntas

Mil dias e não se sabe quem mandou matar Marielle Franco e por quê.

Por que Fabrício Queiroz depositou R$ 89 mil na conta de Michelle Bolsonaro?

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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