//OPINIÃO// Negacionismo eleitoreiro e descontrole do covid-19

Governador João Doria anuncia retorno à Fase Amarela um dia depois da eleição


Salete Silva


“Na cidade de São Paulo, não há nenhum indicativo de voltar para as fases anteriores do Plano São Paulo”, disse o prefeito reeleito Bruno Covas (PSDB) se referindo às medidas de segurança para conter a pandemia de covid-19, na semana passada.

Argumento semelhante usou o vice-governador Rodrigo Garcia (DEM), chamado às pressas pelo deputado estadual Edmir Chedid (DEM) na véspera das eleições municipais para, em visita ao comércio de Serra Negra, garantir aos lojistas que o governo do Estado de São Paulo não planejava regredir nas medidas de abertura do comércio.

O vice-governador usou um discurso veemente para assegurar aos serranos de que o pior da pandemia já havia passado e que a tendência, ao contrário, era de perspectiva de retomada cada vez mais acelerada da economia até o início de 2021.

A visita do vice-governador em Serra Negra nas vésperas das eleições não foi por acaso. A cidade também não foi escolhida pelo vice-governador devido a sua ligação afetuosa com o município ou os serranos.

O vice-governador foi a alternativa que a chapa da situação encontrou para abafar o boato espalhado dias anteriores por opositores de que o comércio da cidade fecharia em 16 de novembro, dia seguinte às eleições, o que poderia prejudicar o desempenho do candidato da situação nas urnas.

Na ocasião, no entanto, os principais hospitais de São Paulo já informavam que os leitos dos hospitais estavam sendo tomados por pacientes de covid19. As Unidades de Terapia Intensiva (UTI) dessas instituições já estavam chegando à capacidade limite.

O recrudescimento da pandemia, no entanto, e os riscos de saúde para a população ficaram em segundo plano nos discursos dos candidatos à Prefeitura de Serra Negra.

A pandemia foi tratada como um problema que já havia superado a fase crítica e que não exigiria retrocessos no Plano São Paulo nem no funcionamento da economia. Bastavam a adoção dos protocolos de segurança pelos estabelecimentos comerciais e o comportamento seguro da população.

As aglomerações em portas de bares, praias e espaços públicos e o relaxamento no uso de máscaras indicavam que nem em Serra Negra nem em nenhum outro município do Estado, a população estava levando a sério as medidas de segurança e o afastamento físico.

No início da pandemia, nos meses de abril e maio, pesquisadores do Instituto Johns Hopkins já alertavam para a necessidade da adoção de quarentenas intermitentes até que houvesse uma vacina disponível. A pandemia não cederia antes disso.

De um lado, empresários e trabalhadores rechaçaram propostas de retrocessos na flexibilização da economia, de outro, políticos optaram por adotar condutas para não melindrar eleitores em ano de eleições municipais. No governo federal, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) adotou e ainda adota discurso negacionista em que as máscaras são equipamentos inúteis.

Na coletiva desta segunda-feira, 30 de novembro, em que João Doria finalmente admitiu a expansão mais acelerada da pandemia no Estado, o secretário da Saúde, Jean Gorinchteyn admitiu, também finalmente, que há subnotificação dos casos. O secretário informou que houve um registro de diminuição da testagem nos municípios do interior do Estado de 100 testes para 68 testes a cada 100 mil  habitantes.

Em vez de relativizar o recrudescimento da pandemia e usar o tema com objetivos eleitoreiros, os políticos, muitos dos quais flagrados sem máscaras nas atividades de campanha, deveriam alertar a população a respeito do agravamento da pandemia e exigir a realização de mais  testes e maior monitoramento que, segundo médicos da cidade, estão muito aquém do necessário para controlar a pandemia em Serra Negra. 

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