//OPINIÃO// Elmir vai governar uma cidade linda, mas com vários problemas

Elmir Chedid, o novo prefeito: administração enfrentará dificuldades de origem nacional e local


Salete Silva 

Elmir Chedid, o novo prefeito de Serra Negra, vai herdar uma cidade linda por natureza, mas com alguns problemas das grandes metrópoles, agravados pela crise econômica, que se estende há anos sem que o governo Bolsonaro conseguisse domar, e pela pandemia de covid-19, que não tem prazo para terminar.

Além disso, a cidade sofre com a concorrência de municípios turísticos que se modernizaram e ganharam a preferência dos turistas e a dianteira, inclusive na região do Circuito das Águas Paulista.

Durante a pandemia, Serra Negra perdeu 391 postos de trabalho formais. O desemprego contribuiu para reduzir a renda média dos trabalhadores que em 2018, segundo dados da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), da USP, girava em torno de R$ 1.765,00 e já era inferior à média paga pelas empresas do Estado de São Paulo, da região de Campinas e de municípios como Socorro, que se destacou pelo turismo de aventura.

O auxílio emergencial, que acaba em janeiro, e outros programas de transferência de renda contribuíram para amenizar o impacto do desemprego e os efeitos da crise econômica, injetando no município cerca de R$ 22,38 milhões e beneficiando 7.892 serranos, segundo o Portal da Transparência da Controladoria-Geral da União.

Além da expectativa da queda de cerca de 5% do PIB nacional e de 1% do PIB do Estado de São Paulo em 2020, o próximo ano deve iniciar com um contingente ainda maior de desempregados, mesmo que a economia dê sinais de recuperação.

Provavelmente, dizem os especialistas, esse aumento do número de desempregados será consequência da própria recuperação econômica, que estimula mais pessoas a procurar emprego, em especial se a pandemia der sinais mais claros de arrefecimento.

Ainda assim, especialistas estimam que devido à dificuldade de criar novos postos de trabalho, o desemprego deve demorar ao menos até 2022 para voltar ao nível de antes da pandemia do covid-19.

A pandemia no Brasil, ao contrário de outros países, se mantém em um platô. Talvez por isso algumas autoridades estimam que o Brasil não terá uma segunda onda, mas também não vai conseguir reduzir o índice de contaminação nem de mortes enquanto boa parte da população não for vacinada. O número de contaminação e mortes deve se manter em níveis elevados.

Além desses problemas vinculados ao cenário nacional e global, Serra Negra enfrenta problemas específicos. 

Um deles é a dificuldade de organizar o setor de turismo para consolidar uma identidade turística própria. 

Outro problema sério é o da carência de oferta de empregos e oportunidades profissionais, culturais e de lazer em especial para os mais jovens. 

Mais grave ainda é a falta de acesso a consultas e cirurgias em diferentes áreas médicas, como neurologia, oncologia e gastrologia, entre outras.

Serra Negra enfrenta ainda problemas típicos de municípios pobres, como a maior parte das cidades brasileiras, entre os quais a falta de água e saneamento básico nos bairros distantes do Centro.

Em algumas áreas a população ainda fica até três dias sem o abastecimento de água e em outras os moradores pagam uma taxa de R$ 250 para um caminhão limpa fossa.

Reduzir as desigualdades socioeconômicas também é um desafio para o novo prefeito nesta cidade com menos de 30 mil habitantes, mas com injustiças sociais típicas de um país que ocupa o segundo lugar no mundo em desigualdade social.

O depoimento de uma jovem cabeleireira, que preferiu não se identificar, ao Viva! Serra Negra dá uma ideia da desigualdade no município. Ela relatou que tem uma cliente com diagnóstico de câncer que faz tratamento pelo SUS, mas que está sem acesso aos serviços médicos devido à pandemia. “Ela colocou uma prótese que seu organismo rejeitou e permanece a maior parte de seus dias de bruços para amenizar a dor, enquanto não consegue refazer a cirurgia”, relata a cabeleireira.

Uma outra cliente que também foi diagnosticada com câncer durante a pandemia, mas que tem convênio médico, conseguiu se tratar e está bem. 

“Qual será o político que vai realmente enfrentar e acabar essa injustiça que faz com que alguns tenham recursos para se tratar e outros não?”, perguntou a cabeleireira na véspera das eleições, quando ainda não tinha decidido em qual dos candidatos votar. Que ela e Serra Negra tenham feito a escolha certa. 

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