//ANÁLISE// No desespero, Ministério da Economia diz que coronavírus acabou

                                                                      


Fernando Pesciotta



Começa a bater o desespero na equipe do ministro Paulo Guedes. A análise mais frequente no mundo político é de que as eleições de domingo deixaram claro o desgaste de Jair Bolsonaro. Sua reeleição passa a depender do desempenho da economia, elevando emprego e renda.

Só que do jeito que vai, nada disso será possível. A despeito do discurso otimista e da tentativa de mostrar recuperação, os índices de desemprego teimam em mostrar o contrário. O fim do auxílio emergencial em janeiro terá um efeito devastador no consumo.

Os investimentos externos escassearam, e mesmo os empresários nacionais estão preferindo a cautela. O déficit fiscal se projeta perigoso para as contas públicas e a inflação torna-se cada vez mais ameaçadora.

Diante desse quadro e de sua inação, e enquanto governos estaduais, autoridades médicas e indicadores de internação mostram uma nova onda de covid-19 no País, o Ministério da Economia “informa” que o coronavírus acabou.

O índice de contágio da doença, que estava em 0,68 nas últimas semanas, foi para 1,10. No Estado de São Paulo, o governo decreta quarentena até 16 de dezembro. Mas o secretário de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sashsida, “assegura” que é “baixíssima” a probabilidade de uma segunda onda da covid no Brasil.

Mais do que isso, Sashsida diz ter em mãos um estudo mostrando que vários Estados já atingiram a imunidade de rebanho.

Porém, o projeto Comprova, responsável pelo acompanhamento dos indicadores da pandemia, verificou a menos de um mês não haver dados que indiquem proteção coletiva para frear o vírus.

Além disso, ainda não se sabe como a Secretaria de Política Econômica do Ministério da Economia de uma hora para a outra se tornou especialista em saúde pública e infectologia.

Linhagem

A estratégia do Ministério da Economia está alinhada com o DNA do governo de Jair Bolsonaro, de deturpar fatos e abusar de incorreções.

Ao participar da reunião de cúpula dos Brics – grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –, Bolsonaro fez críticas a organismos multilaterais e pediu mudanças na Organização Mundial da Saúde e até no Conselho de Segurança da ONU.

Bolsonaro também ameaçou denunciar países europeus que estariam importando madeira ilegal do Brasil, fruto do desmatamento da Amazônia.

Na verdade, ele tentava dar um basta no noticiário sobre sua derrota nas urnas e se antecipar a uma revelação que viria logo depois.

Em 2017, a operação Arquimedes da PF apreendeu 2.400 m³ de madeira extraída ilegalmente na Amazônia e seria vendida na Alemanha, Bélgica, França, Itália, Dinamarca, Holanda, Portugal e Reino Unido. Bolsonaro ameaçou acusar esses países por isso.

Só que, mesmo sabendo das irregularidades, em março deste ano o Ibama acabou com as inspeções nos portos, favorecendo a exportação de madeira ilegal. Ou seja, tem a digital de Bolsonaro e do ministro Ricardo Salles no contrabando da madeira.
 
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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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