//ANÁLISE// Morte no Carrefour expõe racismo estrutural

                                                                         


Fernando Pesciotta


O assassinato de João Alberto Silveira Freitas no Carrefour em Porto Alegre abriu um profundo debate na imprensa e nas redes sociais sobre o racismo no Brasil e as responsabilidades de empresas, governos e da própria sociedade.

O caso está sendo visto como um teste para a credibilidade de indicadores utilizados como atestado de boas práticas corporativas em questões sociais e ambientais.

O que assunta é que na sexta-feira os papéis do Carrefour na Bolsa fecharam em alta, colocando em xeque a credibilidade dos índices de sustentabilidade e a sensibilidade de investidores e operadores do mercado financeiro.

“Levei dois socos na cara hoje, o primeiro pelo fato de terem espancado um negro até a morte e o segundo pela falta de reação do mercado”, comentou Fabio Alperowitch, diretor da Fama Investimentos, especializada em gestão de fundos sustentáveis, na Folha.

O episódio motivou reações críticas de lideranças políticas das mais diferentes tendências.

O vice-presidente, general Hamilton Mourão, negou tratar-se de racismo, reforçando um viés crítico contra o governo.

Jair Bolsonaro não se manifestou sobre o caso, e tem sido cobrado por isso. “Sou daltônico, todos têm a mesma cor”, limitou-se a publicar nas redes sociais.

Pior, Bolsonaro incentivou seus seguidores a criticarem os protestos contra o crime. O lugar de quem reage “é o lixo”, disse.

O assunto tem ampla repercussão na imprensa internacional. Vários veículos, especialmente os alemães, fazem duras críticas ao comportamento de Bolsonaro e Mourão.

Pouco caso

O Ministério da Saúde pode jogar no lixo 6,8 milhões de testes de covid-19. Os kits perdem validade na virada do ano e não foram distribuídos para o SUS.

Para se ter uma noção do tamanho do desperdício, foram feitos 5 milhões de testes na rede pública. Ou seja, menos do que o total que será jogado no lixo.

Segundo especialistas, isso significa que o governo Bolsonaro optou por deixar os infectados morrerem ao não fazer os testes.

O resultado é que o País se aproxima de 170 mil mortes, com nova alta em dez Estados.

Incompetência

Bolsonaro foi ao Amapá no final de semana para, oficialmente, ligar geradores que restabeleceriam o fornecimento de energia no Estado. O resultado é que hoje, 23 de novembro, Macapá amanheceu pelo 21º dia sem luz e sob enchente.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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