//ANÁLISE// Crime de responsabilidade

                                                                          


Fernando Pesciotta


Acusado pelo possível descarte de 6,8 milhões de testes de covid-19 pelo Ministério da Saúde, Jair Bolsonaro repete a estratégia de terceirizar a culpa. Ele disse que Estados e municípios devem responder pelo caso.

O Ministério Público, porém, não vê assim. Nesta segunda-feira, 23 de novembro, os promotores pediram ao Tribunal de Contas da União (TCU) que investigue o desperdício e adote medidas pelo prejuízo de R$ 290 milhões.

"Como era de se esperar, a causa dessa inércia e desse desperdício não é segredo para ninguém. Trata-se da inépcia do governo federal, sobretudo do Ministério da Saúde, cujo ministro não é da área, no que diz respeito ao planejamento e logística de distribuição para a rede pública de saúde, bem como das medidas necessárias para a aplicação dos testes", descreve a denúncia do subprocurador-geral Lucas Rocha Furtado, conforme revelado pelo UOL.

Como de costume, Bolsonaro fugiu da responsabilidade. Questionado por um seguidor nas redes sociais, disse que "todo o material enviado (sic) para Estados e municípios. Se algum Estado/município não utilizou deve apresentar seus motivos (sic)".

Enquanto isso, o País assiste a novo avanço da pandemia. Segundo pesquisadores, a situação no Brasil se deteriorou fortemente nas últimas duas semanas, caracterizando uma “evidente” segunda onda de covid-19.

A Organização Mundial de Saúde avalia que a melhor recomendação neste momento é de suspensão das festas de Natal e Ano-Novo.

Desde o início da pandemia, em março, Bolsonaro faz pouco caso da doença e debocha da morte de, até agora, quase 170 mil brasileiros. Para isso, se apoiou na opinião “técnica” de Osmar Terra. O deputado minimizou irresponsavelmente o vírus e fez campanha contra o isolamento social.

Com teste positivo de covid-19 há dez dias, Terra anunciou que estava se tratando “precocemente” com cloroquina. Não deu outra: no último final de semana, foi internado num hospital em Porto Alegre, seguindo tratamento convencional.

O ex-ministro ainda tentou disfarçar e mentiu ao informar que estava sendo internado para fazer exames e fisioterapia.

O Hospital São Lucas informa que seu estado de saúde é estável e ele tem “bom padrão respiratório".

Tomara que Terra se recupere e que o caso sirva de lição, assim como serviu para o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello. Depois de infectado, o ministro se revela mais sensível às recomendações da ciência, o que, infelizmente, não é suficiente tendo Bolsonaro como chefe.

Desemprego

Praticamente metade da população ativa está sem emprego. Segundo o IBGE, 47% dos brasileiros com idade para trabalhar estão desempregados, no pior nível desde 1992. A desocupação atinge especialmente pretos, pardos e mulheres.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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