//ANÁLISE// Bolsonaro ataca vacina de olho na eleição

                                                    


Fernando Pesciotta


Ao desautorizar publicamente o ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello, no caso da vacina do Butantan, Jair Bolsonaro mentiu e jogou para a plateia.

A conclusão é de analistas de diversos veículos de comunicação do País e do universo político, o que inclui apoiadores do governo.

Os ataques usados por Bolsonaro para justificar o cancelamento de acordo de compra da vacina estão repletos de contradições como a prática recente do presidente.

Ao falar sobre comprovação científica, Bolsonaro não leva em consideração a propaganda ostensiva que sempre faz da cloroquina, cuja eficácia nunca ficou comprovada cientificamente. Ao contrário, há comprovação de sua ineficácia.

Desde a eclosão da pandemia, Bolsonaro deu inúmeros exemplos de pouco caso com a ciência. Seu discurso atual, portanto, cai no vazio.

Sua verdadeira motivação é política e patológica. Bolsonaro não escondeu o ciúme do ministro da Saúde, que “está querendo aparecer demais, está gostando dos holofotes como o [Luiz Henrique] Mandeta”. Saiu pelo Planalto gritando que quem manda é ele.

Bolsonaro também teme que, às vésperas das eleições municipais, os governadores acumulem ativo político com a vacina.

Colocou água no acordo esperando que o STF o obrigue a financiar a vacina. Ele sabe que os governadores vão recorrer ao Supremo, mas quando a decisão judicial sair o pleito municipal já terá passado.

Bolsonaro jogou, ainda, para sua plateia particular. Já havia dado o aval para o acordo com os governadores, mas acordou na quarta-feira, 21 de outubro, com reações negativas de seus fundamentalistas nas redes sociais.

"Presidente, a China é uma ditadura, não compre essa vacina, por favor. Eu só tenho 17 anos e quero ter um futuro, mas sem interferência da Ditadura chinesa", comentou um deles no Facebook. Bolsonaro imediatamente respondeu: “Não será comprada”.

Seja qual for a razão, a questão agora é saber como se comportará o general da Saúde sendo desautorizado publicamente pelo capitão. Ontem, por ironia, Pazuello amanheceu com Covid-19 e ficará em quarentena.

Do nada Bolsonaro provoca uma crise que custa caro ao País. O incrível é alguém achar que assim deve se comportar o presidente de uma das maiores economias do mundo. Inacreditável. 

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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