//CULTURA// Serra Negra exporta arte para o mundo

Bruno Cosmo: ao chegar a Serra Negra se sentiu numa cidade cenográfica de novela de época

Salete Silva

Trocar os grandes centros por cidades do interior virou tendência, com o aumento de profissionais trabalhando em home office. Serra Negra ainda não registrou um número expressivo de cidadãos que trocaram a cidade pelo campo.

Mas o artista plástico Bruno Cosmo não precisou do covid-19 para deixar o ABC paulista e viver em Serra Negra, onde instalou seu ateliê há três anos e se dedica a desenhar e divulgar artistas brasileiros pelo Brasil e o mundo afora.

O romance de Walcyr Carrasco “Juntos para Sempre”, o levou até Holambra, cidade citada na obra do escritor. O artista aproveitou a viagem para explorar a região e assim conheceu Serra Negra.

“Foi como se tivesse entrado em um túnel do tempo ou em uma cidade cenográfica de novela de época”, lembra o artista. Nascido e crescido em São Paulo, Cosmo diz que seus olhos brilharam de tanto encantamento.

Obra de Pauline Dala Senta

“Coisas simples para os moradores daqui, como beber água da fonte, cumprimentar o senhorzinho que empurrava um carrinho de criança na praça, o passeio de trenzinho, os animais na fazendinha me fizeram voltar à infância”, relata.

Com tanto deslumbramento, Cosmo diz que não foi difícil tomar a decisão junto com sua esposa de começar um novo estilo de vida em uma cidade do interior.

Cartaz de autoria de Bruno Cosmo

Paralelamente à produção artística própria, Bruno e a mulher Flávia Trama mantêm o estúdio Cosmotrama, representante de artistas de diversas partes do país.

Seu trabalho artístico e dos artistas que representa reúnem diversas técnicas e materiais. Os temas são inspirados na cultura pop, desde os filmes, música até personagens de histórias em quadrinhos.

Obra de Josh Cruz

Artistas do Rio de Janeiro, Bahia , Paraná, Minas Gerais, Distrito Federal  e São Paulo, entre outros Estados, enviam suas obras ao Cosmotrama, especializado na divulgação virtual por meio de sites de colecionadores estrangeiros.

“Trabalhos artísticos produzidos em todo o país saem de Serra Negra para o mundo”, afirma. Todo o processo de venda e negociação das obras com colecionadores é realizado em home office por meio da internet.

Obra de Beatriz Amaral

Cosmo considera Serra Negra uma cidade com vocação para as artes. É possível fazer arte por aqui não apenas para enfeite e decoração. “A arte tem de ser encarada como um modo de vida”, afirma.

E é isso o que tem feito em Serra Negra desde que fixou residência na cidade. “Visitei exposições no Palácio Primavera, me encantei com os talentos nos eventos de música e dança e frequento a feira de artesanato”, relatou.

Ele acompanha de perto também o trabalho de colegas na cidade, como o artista plástico francês Stéphane Saracco e o projeto de criação de uma galeria do artista Henrique Vieira Filho.

Cosmo diz sentir falta, no entanto, de um plano cultural para Serra Negra, que poderia ser desenvolvido por artistas em parceria com a administração municipal.

“A arte deve ir além da pintura e as escolas oferecem apenas o básico para o cumprimento da grade curricular, poderíamos criar projetos que envolvam o teatro e a história da arte para contribuir com a formação cultural de crianças e adolescentes da região”, propôs.

Infraestrutura para eventos não falta em Serra Negra, ele observa. “Disso não tenho dúvidas, além dos grandes espaços para eventos e organização de exposições, há uma equipe da Cultura que mantém uma ótima comunicação e que organiza eventos para o público do turismo como para os artistas locais”, salientou.

Além de contribuir para a expansão da arte na cidade, com o fim do isolamento social o artista começa a tirar da gaveta um projeto especial para Serra Negra.

Ele planeja ilustrar todos os pontos turísticos do município em telas com pintura a óleo e depois apresentar o trabalho em uma exposição.

“Gostaria de organizar uma exposição com minhas obras e de outros artistas do Circuito das Águas Paulista”, revelou.

A exposição seria só o pontapé inicial para um plano mais abrangente de conexão e integração dos profissionais da arte da região. A ideia é reunir os talentos para oferecer cursos de pintura ou galerias com vendas de artes originais.

Cosmo avalia que se a tendência de migração de profissionais dos grandes centros para o Interior se confirmar, Serra Negra será beneficiada em especial no que diz respeito às artes.

“Novos profissionais têm muito a acrescentar com novas ideias não só para as artes, mas também para a economia e o comércio local, desde que a cidade nunca perca de vista suas origens interioranas”, concluiu.