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Fernando Pesciotta
Analistas políticos são quase unânimes em dizer que o mercado financeiro e a elite econômica ignoram os horrores de Jair Bolsonaro pela aposta na agenda liberal do ministro Paulo Guedes. Passa pano, como se diz na gíria das redes sociais.
Guedes continua sem um plano para a criação de empregos, investimento produtivo, expansão do consumo e outros pontos básicos para qualquer gestão econômica, e tem sido recorrentemente desautorizado pelo presidente.
O posto Ipiranga perdeu todo o poder de influência. Nem na negociação para aprovação de projetos como a reforma administrativa ele está envolvido. Na semana passada, gritou contra a tentativa do governo de monitorar preços e Bolsonaro o ignorou publicamente.
Guedes chegou a prever o caos caso fosse obrigado a pedir demissão por ser contrariado. Nem saiu, nem evitou o caos. Se apegou ao cargo e se transformou num leão desdentado.
Guedes assiste calado à ocupação da máquina pública, com mais de 30 mil militares nomeados para cargos de confiança.
Enquanto discursa em defesa do controle de gastos, nada fala sobre indicações de apoiadores de Bolsonaro para cargos públicos. Alguém sabe dizer, por exemplo, o que faz um PM como chefe da Secretaria de Fomento e Incentivo à Cultura?
Todo mundo lembra das cenas patéticas do pato na Avenida Paulista, com manifestações patrocinadas pelo empresariado. Ao manter o apoio a um governo corrupto, incompetente e doentio, esses empresários dão um recado à sociedade: a única coisa que importa é o dinheiro. O resto era conversa mole.
A Amazônia é devastada, o Pantanal queima, o cerrado é destruído e não se vê nenhuma indignação popular, daquelas que tomaram as ruas com bandeiras e camisas verde e amarelo.
A pandemia arrasta mais de 131 mil brasileiros para o túmulo, em grande parte por causa do descaso presidencial, e não se vê a indignação verde-amarela nas ruas.
O desemprego e o desalento alcançam 41% da população economicamente ativa e não se vê a indignação verde-amarela nas ruas.
A família Bolsonaro tem seu vínculo com a milícia do Rio de Janeiro escancarada. O presidente e seus filhos desviaram quase R$ 30 milhões de recursos públicos com as rachadinhas e outros malfeitos. Um escândalo de corrupção. E não se vê nenhuma indignação verde-amarela nas ruas.
Poderia ficar aqui citando muitos outros casos que ilustram a trágica gestão federal, seus escândalos éticos e morais. Mas tomo a ajuda do deputado Ricardo Barros, líder do próprio governo Bolsonaro na Câmara, para explicar nossa busca pelo fundo do poço.
Em entrevista ao UOL, Barros disse que a Lava Jato, a grande justificativa para a classe média ir à Paulista, não respeitou a lei, foi parcial e usada para afastar Lula da corrida presidencial.
Sintetizando, o que Barros quis dizer é que a classe média brasileira é hipócrita. Só se indignou quando empurrada pelos donos do dinheiro para tirar uma corrente política do poder. De resto, é corrupta, ignorante e hipócrita.
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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com
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