//ANÁLISE// Bolsonaro exigiu que ministros fizessem pouco caso da pandemia

                   


Fernando Pesciotta


Revelações feitas pela imprensa permitem concluir que o presidente Jair Bolsonaro usou deliberadamente a força do seu cargo para impor o descaso em relação à pandemia do coronavírus como política de Estado.

Essas revelações vão permitir concluir também que o ex-ministro Sérgio Moro poderá ter sua imagem recuperada e virar um herói que tentou combater as mortes causadas pela Covid-19 e pelo comportamento presidencial.

Nesta quarta-feira, 2 de agosto, dia em que o País contabilizava quase 124 mil mortes causadas pelo coronavírus, relatório entregue ao Supremo Tribunal Federal pela Polícia Federal revela uma dura troca de mensagens entre Bolsonaro e seu então ministro da Justiça, que culminou no pedido de demissão de Moro.

De acordo com o relatório da PF, conforme noticia o UOL, na troca de mensagens por telefone o presidente diz que os ministros que o contrariam devem se demitir, sugerindo que era o caso do ex-juiz.

Na tarde do dia 12 de abril, continua o relatório, Bolsonaro encaminhou para Moro a cópia de uma reportagem publicada pelo jornal Valor Econômico na qual o então ministro aparece dizendo que a polícia poderia impor coercitivamente medidas de isolamento social e quarentena na crise do coronavírus.

A reação de Bolsonaro foi furiosa e ameaçadora: "Se esta matéria for verdadeira, todos os ministros, caso queira [sic] contrariar o PR [presidente da República], pode fazê-lo, mas tenha dignidade para se demitir. Aberto para a imprensa".

O trabalho da PF, claramente favorável a Moro, integra o inquérito que apura suposta intervenção indevida de Bolsonaro na cúpula da polícia. O presidente tem negado interferência indevida.

Mais gastos

Numa tentativa de dar uma resposta à queda recorde do PIB, o governo entrega hoje ao Congresso a PEC da reforma administrativa. A proposta visa enxugar o total de funcionários públicos, prevê o corte de benefícios e abre a possibilidade de facilitar a venda de estatais.

Porém, antes da reforma o governo achou uma brecha para inchar mais a máquina. Por pressão de Bolsonaro, a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional alterou um parecer que restringia recrutamentos até o fim de 2021. A trava havia sido incluída por Paulo Guedes para conter os gastos com o funcionalismo. Novos concursos ficam autorizados para preenchimento de milhares de cargos.

Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, ICMBio e Ibama devem fazer novas contratações. O Ministério da Agricultura espera contar com mais 140 auditores fiscais agropecuários.

A publicidade oficial também vai gastar mais. Bolsonaro reserva R$ 495,5 milhões no Orçamento de 2021 para a comunicação institucional. Esse valor é 398% maior do que o inicialmente projetado para este ano.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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