//SERRA NEGRA NA RODA// Governo nada fez para proteger as cidades turísticas, diz Belluzzo


O impacto da pandemia do novo coronavírus na atividade econômica de municípios como Serra Negra poderia ter sido amenizado se o governo federal tivesse adotado medidas mais efetivas para proteger os empreendimentos turísticos, avaliou o economista Luiz Gonzaga Belluzzo.

Professor titular da Unicamp, tendo ocupado os cargos de secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda e chefe da Secretaria Especial de Assuntos Econômicos, Belluzzo foi o entrevistado desta semana do Serra Negra na Roda, uma iniciativa da Casa da Cultura e Cidadania Dalmo de Abreu Dallari.

Belluzzo revelou durante a entrevista que foi morador de Serra Negra quando criança. Seu pai era juiz em Socorro e, durante um ano e meio, acumulou a vara de Serra Negra, para onde a família se mudou. Sua residência ficava na Rua Coronel Pedro Penteado, próxima ao Rádio Hotel. “Nadava quase todas as manhãs no Rádio Hotel, em uma piscina de águas radioativas”, recorda-se.

O professor diz guardar ótimas lembranças da cidade. “Era muito agradável e simpática a vida em Serra Negra. A região faz parte da minha história de vida. Tenho grande apreço pela região”, afirmou.

Belluzzo avalia que os municípios da Circuito das Águas Paulista teriam de ter recebido uma ação mais efetiva do governo federal para proteger os empreendimentos ligados ao turismo. “Mas não estão fazendo nada”, lamentou.

O professor lembrou que 716 mil empresas brasileiras encerraram definitivamente suas atividades entre março e julho, segundo pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

“Isso é uma devastação. Tinham de agir de forma enérgica para impedir que essas empresas fechassem. Os circuitos colapsaram, com fechamentos de empresas e a explosão do desemprego. Será que não entenderam isso?”, interrogou.

Belluzzo lembrou que apenas o Estado poderia reverter essa situação, porque é o gestor da moeda e o único que poderia oferecer recursos às empresas. “Em situação de ruptura, não tem outro agente”, destacou.

A crença de que a austeridade fiscal é capaz de atrair investidores, avaliou, é uma ignorância completa de como funciona uma economia capitalista. 

“É uma rigidez cadavérica”, afirmou. O professor considera também uma crença tola a ideia de que ao equilibrar o Orçamento, o Estado vai ganhar a confiança dos investidores.

Fora do Brasil, disse, as pessoas perguntam se os brasileiros têm um louco administrando um hospício. “São 716 mil empresas fechadas definitivamente, como a economia vai se recuperar?”, questionou.

O auxílio emergencial, se prorrogado, avaliou, pode ajudar a sustentar minimamente a demanda para que as empresas continuem sobrevivendo pagando suas contas e os salários. 

O professor acredita, no entanto, que se o governo decidir estender o benefício por um valor inferior aos atuais R$ 600 a demanda não vai se sustentar.

Belluzzo explicou que os beneficiários do Bolsa Família tiveram um ganho de renda, uma vez que o auxílio emergencial oferece um valor maior. “Se interromper o auxílio emergencial, as famílias que recebiam o Bolsa Família vão guardar o dinheiro em vez de gastar”, analisa.

Com isso, o efeito positivo do auxílio emergencial sobre a demanda, que impulsionou alguns setores da economia, será inferior. O economista lembrou ainda, no entanto, que os índices econômicos estão sendo comparados com uma base muito baixa, que são os meses logo após o início da pandemia.

O professor criticou ainda a teoria econômica convencional que compara os orçamentos familiar e público, como se fosse possível administrar uma casa e o Estado da mesma maneira.

“Isso é uma fábula”, afirmou. Belluzzo disse que não há registro de um Estado nacional que tenha quebrado por se endividar na própria moeda. Ele lembrou que o Brasil quebrou em 1980 porque fez dívida externa em dólar. O Brasil hoje não tem dívida em dólar e gasta na sua própria moeda.

"Ele tem a faculdade de se endividar e de criar a própria moeda”, explicou. “Nunca vi na história um Estado que não tem dívida em dólar quebrar, sobretudo numa situação de colapso da economia e do emprego como o que vivemos hoje”, afirmou.

A saída do Brasil da pandemia é preocupante, na sua avaliação, porque é uma incógnita. “O que preocupa é a saída da pandemia como vai ser porque ninguém sabe como isso vai acontecer”, afirmou. 

Assista a seguir a íntegra do Serra Negra na Roda com o professor Luiz Gonzaga Belluzzo:

 

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