//PANDEMIA// Produzir máscaras vira oportunidade de negócios para serranos

Máscaras do MaFê Ateliê Boutique: reversão industrial garantiu sobrevivência da empresa


 Salete Silva


O comércio de máscaras surgiu como economia de guerra para compensar a queda no faturamento no início da pandemia do novo coronavírus.  Agora já é porta de entrada de empresas e trabalhadores serranos em novos mercados e nichos de negócios.  

O MaFê Ateliê Boutique foi uma das primeiras empresas de Serra Negra a fazer o que os economistas chamam de reversão industrial, ou seja, mudar sua linha de produção com o objetivo de atender novas demandas sociais.

Com isso não só garantiu sua sobrevivência financeira, como a renda de mais três costureiras, além de levantar capital de giro para investir na distribuição de seus produtos em lojas do varejo que passaram a representar a marca. 

Os governos da China, Japão e Taiwan, entre outros países, logo no início da pandemia incentivaram e apoiaram a reconversão industrial de suas empresas por meio de subsídios e flexibilização da licença. 

Em pouco tempo suas fábricas já eram líderes mundiais na produção de máscaras cirúrgicas e equipamentos para o tratamento da covid-19.

No Brasil, o governo federal praticamente não adotou medidas nessa direção. Os empresários brasileiros foram à luta por conta própria, como o casal serrano Luiz Fernando de Vasconcelos Júnior e Jamilli Vieira, proprietários do MaFê Ateliê Boutique.

Luiz Fernando Vasconcelos: planos de expansão dos negócios


Os negócios da empresa, que tem os serviços fotográficos como principal atividade, foram atingidos em cheio pela pandemia.

“Fazemos ensaios fotográficos e fotos em hotéis que permaneceram fechados por mais de quatro meses”, relata Vasconcelos. Com o uso obrigatório de máscaras nos hotéis, o casal ainda não conseguiu retomar os trabalhos fotográficos.

A empresa atua também na confecção de adereços, material didático de apoio para aulas de balé infantil e acessórios da linha casual.

Cerca de 80% das encomendas desse outro segmento da MaFê também foram canceladas em virtude da suspensão de eventos, como feiras e festivais de dança. 

“A retomada das feiras só deverá ocorrer a partir do segundo semestre de 2021. Os eventos de dança que estavam previstos para acontecer em Serra Negra este ano só deverão ser realizados em 2022”, prevê Vasconcelos.

A produção de máscaras foi a salvação dos negócios. Alguns dias após a divulgação do primeiro decreto municipal que instituía o fechamento do comércio em Serra Negra, o casal decidiu redirecionar a produção.

“Decidimos partir para a confecção de máscaras de tecidos em 22 de março, pois já estavam sendo fabricadas em outros países, como o Japão por exemplo”, recorda o empresário.

No dia 1º de abril, antes mesmo de o Ministério da Saúde do governo Jair Bolsonaro (sem partido) recomendar oficialmente o uso de máscaras, o MaFê Ateliê Boutique tinha uma quantidade razoável confeccionadas e prontas para serem colocadas no mercado.

A primeira remessa já foi elaborada para atender um mercado diversificado.

“Nosso primeiro molde foi desenvolvido com base na máscara cirúrgica vendida na farmácia”, diz o empresário.

Vasconcelos lembra que os primeiros modelos já foram produzidos com medidas definidas para oferecer conforto em cada formato de rosto. O MaFê lançou sua primeira linha de máscaras com a perspectiva de expansão de mercado.

Os empresários apostam que as máscaras vão se tornar um acessório permanente. Para garantir espaço no mercado, a empresa de início tentou se diferenciar pela qualidade no acabamento.

Além disso, os produtos incorporam tendências da moda em relação a cores e texturas. “Temos linhas exclusivas, como a nossa linha luxo e máscaras bordadas à mão”, salienta.

Tecidos de alta costura também são usados nos modelos mais sofisticados. A produção atende aos públicos infantil e adulto, masculino e feminino. Os preços variam de R$ 7 a R$ 35.

O MaFê desenvolveu ainda peças complementares como kits com faixas, turbantes e scrunchies.

As encomendas chegam de diferentes partes do país. A empresa tem clientes de cidades de São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais, Bahia, Goiás e até Portugal, além de municípios do Circuito das Águas Paulista e Serra Negra.

O empresário relata que as máscaras abriram novos mercados e ajudaram a divulgar e impulsionar outros produtos da empresa, que tinha uma atuação restrita a alguns segmentos.

Embora o ateliê esteja funcionando há quatro anos, foi por meio do comércio de máscaras que Vasconcelos diz ter conhecido de fato o mercado em Serra Negra. Com as vendas estabilizadas na região, o casal planeja expandir os negócios para outras áreas do país.

Flávia: máscaras personalizadas e tecidos diferenciados

A produção e o comércio de máscaras também aqueceram os negócios da pequena empresa de personalização de produtos de Flavia Cristina Valencio. As máscaras personalizadas respondem agora por 80% de seu faturamento.

Além de personalizar seus produtos, Flávia utiliza tecidos diferenciados, como o antivírus e íon de prata. A pequena empresária diz que o fechamento das lojas não afetou muito suas vendas, que passaram a ser realizadas pela internet e por meio de delivery.

Rosiani: sem experiência em corte e costura, teve a ajuda da cunhada

A confecção de máscaras também complementou a renda de trabalhadores que permaneceram em casa com o fechamento do comércio, como a balconista Rosiani Dos Santos Godoi.

A loja em que Rosiani trabalha aderiu ao programa de seguro-desemprego do governo. “Não tinha nenhuma experiência com corte e costura. Minha cunhada, que tinha uma noção básica em costura, foi quem me ajudou”, relata.

Rosani também trabalha com máscaras personalizadas em sublimação, que podem levar o logo da empresa, fotos, frases e o que o cliente desejar aplicar.

A pequena empresária explica que a máscara se tornou um acessório que tem de ser produzido para atender às exigências do mercado, como padrão de qualidade e novidades.

O cliente deseja conforto, qualidade e novidades sempre. Às vezes o cliente quer máscaras personalizadas para certas ocasiões especiais.

Como já retornou ao trabalho na loja onde é funcionária com carteira assinada, Rosani se dedica à confecção à noite. Ela diz que aumentou a concorrência entre os fabricantes de máscaras de panos, mas ainda assim é um bom negócio, que ela pretende manter até o fim da pandemia ou enquanto as máscaras continuarem sendo um acessório fundamental.

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