//NEGÓCIOS// Restaurante Don Julius apostou no delivery e se deu bem

Júlio, com a sócia e companheira Fabiana Ungarato Pereira: apenas duas mesas no salão

Salete Silva


Que o mundo não será mais o mesmo depois da pandemia já é lugar comum. Mas que mundo será esse do pós-pandemia é o que empresários de diferentes segmentos vêm tentando descobrir.

O chef de cozinha Júlio Cesar Pires, dono do Restaurante Don Julius, pretendia manter as portas fechadas mesmo depois que Serra Negra avançou para a atual Fase Amarela do Plano São Paulo, que autoriza o atendimento presencial em bares e restaurantes.

O empresário só voltou atrás esta semana e vai instalar, a pedido de amigos lojistas, apenas duas mesas no seu salão para atender eventuais turistas. Seu negócio agora está focado no delivery e no atendimento aos moradores de Serra Negra e visitantes com residência na cidade.

O sistema de delivery garantiu ao Don Julius manter pelo menos 70% do seu faturamento desde o início da pandemia. Quando o primeiro decreto municipal autorizava, em junho, a reabertura de bares e restaurantes, o chef decidiu manter as portas fechadas.

Ele explica que o custo para reverter novamente o sistema de atendimento é muito alto. Teria de contratar mais empregados e o número de mesas autorizados não permitiria um faturamento necessário para manter o restaurante funcionando.

O empresário avalia também que garantir a saúde de colaboradores e clientes exige muitos procedimentos de higienização e segurança.

Atendendo aos apelos de amigos do comércio, o chef de cozinha, no entanto, vai instalar duas mesas.

O empresário vai otimizar a mão de obra e não pretende contratar mais empregados. Os temperos serão oferecidos nas mesas em embalagens descartáveis.

Durante a pandemia o empresário consolidou seu atendimento ao público serrano, que já era responsável por parte do bom faturamento registrado pelo Don Julius em 2019, quando foi inaugurado.

"É do bom e barato", o lema da casa

Sua especialidade é comida caseira bem feita e com o lema “é do bom e barato”, como faz questão de destacar. A refeição mais popular varia entre R$ 15 e R$ 16 e tem atraído clientes de todos os bairros da cidade. Os pratos servidos nas duas mesas para atendimento presencial custarão a partir de R$ 20.

O frango à milanesa é o preferido da clientela. No cardápio, há pratos mais sofisticados, como o parmegiana de ancho, além de feijoada aos sábados e domingos. O cardápio é flexível e varia de acordo com os pedidos.

“Passamos a atender moradores que queriam provar nossas refeições, mas por motivos de distância ou por falta de tempo para almoçar fora e até mesmo porque trabalhávamos com a casa cheia quase todos os dias, não tiveram a oportunidade de frequentar o restaurante antes da pandemia”, explica.

O atendimento é feito de segunda a domingo. O chef diz que o maior desafio é fazer uma comida caseira bem feita, porque Serra Negra é uma cidade em que as pessoas em geral sabem cozinhar muito bem e, portanto, são exigentes e reconhecem a comida de qualidade.

Os ingredientes são simples, mas a qualidade é o diferencial. “Nossa culinária é simples, mas com temperos de alta gastronomia”, revela.

Evitar o desperdício é mais um dos segredos do negócio. No caso das carnes, a qualidade é garantida grelhando ou fritando apenas no momento do pedido. Além disso, ele prioriza a pesquisa antes da compra, para escolher os fornecedores que oferecem os melhores preços.

O empresário relata que o sistema de delivery se mostrou a melhor alternativa para o restaurante no dia em que a prefeitura anunciou o fechamento do comércio em março. Em apenas 24 horas, ele reverteu seu atendimento presencial para o de entregas.

Atravessou a madrugada de 20 de março adaptando o cardápio ao novo sistema. No mesmo dia, providenciou o material necessário, como embalagens, chip de celular para venda via WhatsApp e mochila para entregas, entre outros. Tudo foi adaptado para atendimento via Facebook e Instagram.

Além disso, teve de remanejar seu quadro de funcionários, demitindo uma funcionária do salão e contratando um entregador.

O que o preocupa nesta retomada da economia são os primeiros sinais de que a recuperação econômica se dará de forma muito lenta e que a demanda pode diminuir nos próximos meses com o fim do seguro-desemprego.

O empresário lembra que muitas empresas locais demitiram em massa no início da pandemia. Só um dos maiores hotéis da cidade demitiu de cara, ele calcula, cerca de 70 empregados. Depois disso, muito mais demissões ocorreram em Serra Negra.

O chef de cozinha estima que com o fim do pagamento do seguro-desemprego este mês a circulação de dinheiro na cidade deve ter uma queda brutal. O empresário já sente o impacto dessa redução na renda do consumidor no número diário de pedidos de marmitas, que vem diminuindo.

“Além de menos dinheiro circulando, o pessoal parado vai ficar em apuros e isso é um pouco assustador”, afirma. Júlio acha que se houvesse uma quantidade maior de testes de covid-19, a pandemia seria mais bem controlada e a economia poderia voltar ao normal mais rapidamente.

Outra dificuldade do empresário tem sido a de encontrar profissionais especializados para melhorar sua mídia digital. “Não temos nem cardápio digital, tudo é feito da forma mais simples, mas estamos com dificuldades de encontrar profissional para nos dar suporte na mídia digital”, relata.

Ele avalia que dificilmente a atividade econômica se normalize em Serra Negra ainda este ano, embora acredite que o turismo na cidade será rapidamente retomado quando a pandemia terminar, mas isso, ele prevê, só quando houver uma vacina disponível.

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