//ANÁLISE// A tentativa de golpe militar de Bolsonaro contra o STF

 


Fernando Pesciotta

No dia 22 de maio, o presidente Jair Bolsonaro organizou uma reunião no Palácio do Planalto para decidir a invasão militar do STF, tirar de lá os ministros e impor seus substitutos.

A revelação foi publicada pela revista Piauí na quarta-feira, 5 de agosto. A chamada grande imprensa praticamente ignorou a história, que tem ampla repercussão nas redes sociais – o Valor publicou uma nota. Uma explicação para isso pode ser o fato de que a Presidência da República acaba de publicar um edital de mais de R$ 300 milhões para um programa de publicidade.

Nesta quinta-feira, 6 de agosto, foi a vez do ministro da Justiça, André Mendonça, confrontar a corte. Intimado pelo STF, ele se negou a entregar o dossiê feito pela pasta sobre policiais e intelectuais que estariam cometendo o crime de combater o fascismo. Mendonça alega necessidade de preservar o sigilo de documentos produzidos pelo ministério.

A tentativa de golpe de Bolsonaro visava, mais uma vez, proteger os negócios no mínimo estranhos que cercam Bolsonaro e seus filhos. Naquela sexta-feira, conforme o relato da revista, o ministro Celso de Mello, do STF, consultara a Procuradoria-Geral da República sobre a apreensão do celular de Jair e Carlos Bolsonaro.

A reação de Bolsonaro visava invadir o Supremo. Diante dos ministros Walter Braga Netto, Luis Eduardo Ramos e Augusto Heleno, todos militares, anunciou que ia “intervir”. Ramos concordou, mas Heleno avaliou que “não era o momento”. Ou seja, não via absurdo na decisão, apenas considerava que “ainda” não chegara a hora.

O sabujo André Mendonça, o ministro da Defesa e o chefe da AGU se juntaram à reunião para buscar respaldo “legal” à invasão da suprema corte, segundo a revista.

A despeito de ser tosca, a ameaça tramada na sede do governo, pelas principais autoridades do Executivo, é mais uma demonstração do desapreço de Bolsonaro pela democracia e seu perfil totalitarista amparado por generais frustrados.

O “risco” dos juros baixos

A renovação do piso histórico da taxa básica de juros, que passou a ser de 2% ao ano, deve revigorar a pressão sobre os bancos. Com a redução de 0,25 ponto porcentual da Selic anunciada pelo Copom na quarta-feira, o Brasil se consolida entre os países com taxa de juros real negativa, com -0,71% ao ano. Enquanto isso, o crédito bancário continua com juros elevados.

Essa situação, entretanto, não é um privilégio do Brasil. Apenas 12 países têm hoje juros positivos.

Juro negativo é, essencialmente, quando a taxa básica passa a ser inferior à inflação. Uma aplicação financeira que renda 100% da Selic terá um resultado inferior ao esperado para a variação de preços ao consumidor.

Além da alta capitalização dos mercados globais, a recessão em vários países, mesmo os desenvolvidos, ajuda a explicar a pressão sobre a política monetária. Baixando os juros, os bancos centrais esperam fazer o dinheiro girar, incentivando o consumo e o investimento.

O problema é que no Brasil um cidadão que recorra a empréstimo bancário vai pagar caro, pois há um gigantesco descompasso entre o juro básico e aquele cobrado na ponta. Os bancos alegam temor de calote para manter as taxas elevadas. O cheque especial e o rotativo do cartão de crédito, por exemplo, continuam cobrando juros de mais de 300% ao ano.

Spread ainda alto, concentração de poucos bancos e a perda de fôlego das fintechs na pandemia compõem parte da causa do preço tão alto do dinheiro para quem precisa de dinheiro.

Mais risco

Outra consequência da medida do BC é a queda da remuneração dos fundos de baixo risco. Para quem busca aplicações que rendam mais, restam apenas os fundos de maior risco.

A tradicional caderneta de poupança, por exemplo, rende por ano 70% da Selic para os depósitos feitos após maio de 2012. Ou seja, remuneração de 1,4%. Para quem fez o depósito antes de maio de 2012, o rendimento é de 0,5% ao mês. A inflação esperada pelo mercado financeiro para os próximos 12 meses é de 2,97%.

Especialistas aconselham diversificar a carteira. O problema é que esse discurso tem como alvo uma pequena parcela da sociedade, com capital suficiente para planejar e remanejar investimentos. Para o pequeno aplicador, que usa a poupança como defesa do seu discreto patrimônio, o cobertor é curto. E este é um ponto sensível para a política de juros baixos.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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