//ANÁLISE// O Brasil virou um Barcelona

     


Fernando Pesciotta


O Brasil divide com os EUA de Donald Trump o título de pior gestão do mundo no combate ao coronavírus e proteção de seus cidadãos contra a morte.

Há alguns dias a Folha publicou uma pesquisa sobre quanto o brasileiro conhece o general que está sentado na cadeira de ministro da Saúde. Apenas 11% souberam dizer seu nome. Significativo de como o combate à Covid-19 carece de liderança. Nos EUA, Trump caminha para a derrota eleitoral por causa disso.

A queimada destruindo o Pantanal demonstra que o descaso com o meio ambiente no Brasil não se limita a permitir a devastação da Amazônia.

O ministro (?) da Educação tomou posse há um mês e nunca mais se ouviu falar dele. Seu nome só reapareceu no final de semana. A Folha revela que ele se mantém como pastor de uma igreja evangélica de Santos, já que não tem muito o que fazer como ministro.

A trôpega economia assiste à deserção da equipe do ministro Paulo Guedes, que não pede para sair porque se apegou ao cargo e às vantagens. Ninguém sabe ao certo qual é seu projeto.

A sinistra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos incentiva manifestações para impedir que uma menina de dez anos, vítima de abuso de um tio desde os seis anos de idade, faça um aborto autorizado pela Justiça. Uma ministra dos Direitos Humanos, aliada a uma guerrilheira com treinamento paramilitar.

Fica a cada dia mais claro o envolvimento do presidente da República com o esquema de desvio de dinheiro público no escândalo batizado de rachadinha. E não há dúvidas do envolvimento da família Bolsonaro com o crime organizado do Rio de Janeiro perpetrado pela milícia.

Ou seja, a síntese é de um país destroçado. O que explica, então, a alta da aprovação de Bolsonaro? São duas palavras: ignorância e pobreza, e uma não está necessariamente associada à outra.

Parte da classe média é ignorante. Tem dinheiro, mas é ignorante. É essa parcela da sociedade que acredita em cloroquina, acha que Damares Alves tem razão, que a terra é plana e que Bolsonaro é honesto. Acredita nas fake news do seu grupo de WhatsApp e duvida da ciência. E há o mercado financeiro, que até pode saber o quanto está apoiando uma gangue, mas só pensa do proveito que tira disso.

Esqueça a questão de saúde, que para Bolsonaro não vale nada. A crise econômica que ele ajudou a criar forçou o pagamento do auxílio emergencial a 35 milhões de pessoas inseridas na faixa de pobreza – outras 34 milhões recebem por estarem desempregadas –, o que alavanca sua popularidade. Por ironia, nem isso Bolsonaro queria fazer, foi forçado pela oposição.

A imprensa esportiva debateu nos últimos dias qual foi o vexame maior, a derrota do Brasil por 7 a 1 na Copa de 2014 ou a do Barcelona de Messi, por 8 a 2, contra o Bayern. Outra vez a Alemanha. A conclusão é de que o Barcelona virou um catadão. Um comentarista de TV sentenciou: “O time é uma zona.”

O Brasil virou um Barcelona.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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