//ANÁLISE//Falcatruas e fake news vão para o currículo de Novaes e Guedes


Fernando Pesciotta

Enquanto insistia em garantir o patrocínio a sites de credibilidade para lá de duvidosa, propagadores de fake news, o presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, fazia negócios estranhos com o BTG Pactual. Ele anunciou na semana passada que vai deixar o cargo, e tem dito a amigos que Brasília é uma cidade de “privilégios, compadrios e corrupção”.

Supondo que Novaes tenha razão, cabe a pergunta: um profissional do mercado financeiro, aos 74 anos de idade, não sabia disso a ponto de se mostrar surpreso? Novaes só se esqueceu de dizer, entretanto, que ele é um dos protagonistas desse ambiente.

A determinação para que o BB suspendesse a publicidade a sites de fake news foi feita pelo Tribunal de Contas da União (TCU), atendendo a pedido do Ministério Público. Ao contrário da Petrobras, que ao menos alega ter havido equívocos ao patrocinar publicações criminosas, Novaes insistiu. Ele buscou recursos jurídicos para assegurar que o dinheiro público satisfizesse a vontade do Planalto sustentando sites bolsonaristas.

Para se ter uma ideia dessa rede criminosa, nos últimos dias dois influenciadores passaram a ser alvo de uma ação orquestrada pelo gabinete do ódio instalado no Planalto. Felipe Neto foi chamado de pedófilo, a família de Djamila Ribeiro passou a ser perseguida e Eduardo Bolsonaro saiu em defesa do movimento racista nos EUA. A bolsonarista Fernanda Salles, ligada a sites de fake news e, portanto, patrocinada pelo BB, ironizou a morte do apresentador Rodrigo Rodrigues.

Logo que chegou ao cargo, no ano passado, Novaes determinou a suspensão de uma campanha publicitária com a qual o BB tentava se projetar pela diversidade. O filme publicitário mostrava uma jovem negra careca e homens de cabelo rosa num salão de beleza.

Chicago boy, Novaes tem esta e outras afinidades com o ministro da Economia, Paulo Guedes. Ambos são defensores da privatização do BB. “Tem que vender essa porra logo”, disse Guedes na famosa reunião ministerial de abril. Eles também nutrem amor profundo pelo BTG Pactual, banco que tem Guedes como um dos fundadores.

O BB tem sido uma mãe para o BTG, banco de longo histórico de polêmicas e operações suspeitas. Há alguns dias, o BTG anunciou a compra de uma carteira de crédito do BB por R$ 371 milhões. A carteira vendida tem valor contábil de R$ 2,9 bilhões.

Não é incomum instituições financeiras negociarem carteiras de crédito. Porém, por sua credibilidade, capilaridade e outras características, o BB nunca precisou negociar carteira de crédito porque sabe que as dívidas são pagas. O BB tem, historicamente, a mais baixa taxa de calote do mercado. Enquanto não privatiza “essa porra”, Guedes e Novaes fazem o Banco do Brasil retroceder décadas. O BB, que desde a gestão Lula só teve funcionário de carreira como presidente, volta às páginas policiais após passar incólume durante toda a Lava Jato.

Novaes deixará o cargo sem dar explicações. E não ficará desempregado. Guedes deve nomeá-lo assessor especial do ministério, responsável pelo relacionamento com empresários e banqueiros. Compreensível.

MEC

Nesta manhã de quarta-feira, 29 de julho, o governo anuncia a demissão de Ricardo Braga, secretário do Ministério da Educação. Não é explicada a razão da exoneração, que é assinada pelo chefe da Casa Civil, o que prova, como já dissemos aqui, que de fato o ministro da Educação não existe.

-------------

Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

Comentários