//DEBATE// Turismo serrano precisa se modernizar, dizem jovens

Para participantes do Serra Negra na Roda, políticas públicas da cidade excluem os jovens

Faltam oportunidades de educação, lazer, cultura e em especial trabalho, para os jovens serranos.  Essa não é uma novidade, mas pela primeira vez jovens nascidos, criados e que vivem no município tiveram a oportunidade de falar publicamente sobre o assunto e expor suas ideias.

“O Jovem em Serra Negra” foi o tema da primeira edição do Serra Negra na Roda, iniciativa da Casa da Cultura e Cidadania Dalmo de Abreu Dallari, apresentada quarta-feira, 29 de julho, pela jornalista Salete Silva, editora do Viva! Serra Negra.

A urgência de inovar o turismo na cidade foi um dos principais pontos apresentados pelos jovens. Para eles, o setor é pouco atrativo e não contribui para criar vínculos entre Serra Negra e essa faixa etária, que acaba buscando novas oportunidades fora do município.

A psicóloga Maria Luíza Manzano, de 26 anos, que atua na OSC Instituto Nuvem e é vice-presidente do Clube de Cultura Pop de Serra Negra, diz que os jovens serranos interessados em uma formação profissional, incluindo técnica, são obrigados a procurar outras cidades.

Apesar de iniciativas importantes na área de esporte, as políticas públicas municipais, na sua opinião, excluem os jovens. “Falta investimento na educação e saúde voltados para os jovens”, afirmou. Além disso, na sua avaliação, as ações estão sempre mais focadas no turismo do que no morador serrano. "Não tem de excluir o turismo, mas é preciso pensar nas pessoas que moram na cidade e oferecer mais oportunidades aos jovens”, salientou.

O estudante de enfermagem Cauã Henrique da Cunha Alves, de 22 anos, aluno do Centro Universitário de Jaguariúna (Unifaj) e funcionário do Lar dos Velhinhos São Francisco de Assis, vai na mesma direção: “Focam no turismo e os jovens de outras áreas, como eu, ficam deslocados”, afirmou.

Essa falta de oportunidades para os que se interessam por outras áreas e de políticas públicas locais que apoiem e preparem os jovens para que possam optar por outras carreiras profissionais, ele salienta, dificultam a criação de vínculos da cidade com seus jovens.

“Sem criar vínculos de trabalho, acabam deixando a cidade”, conclui. Além disso, os que permanecem em Serra Negra, por falta de oportunidade de estudos ou trabalho, ficam sem perspectivas e se acomodam”, afirma.

Para Anna Beatriz Scachetti, 22 anos, estudante do último de direito da Universidade Estadual Paulista (Unesp), a falta de perspectivas é também o principal empecilho à criação de vínculos do jovem na cidade.

 Investir no turismo, ela avalia, é uma necessidade, porque essa é uma vocação forte do município, mas focar apenas em um segmento é insuficiente para atrair e manter o jovem aqui. “A possibilidade de desenvolvimento fica limitada e quem não tiver condições de se desenvolver plenamente aqui, vai mudar”, afirma. Além disso ela avalia que o turismo de Serra Negra precisa se modernizar para atrair a juventude.

 “Vamos sair da caixa, pensar num turismo ecológico e num turismo que valorize os jovens e as paisagens de Serra Negra, que são lindas”, disse. Para a estudante, a cidade precisa pensar em um turismo diferente.

“Por que não pensar na gastronomia?”, pergunta. O turismo tradicional da cidade não atrai os jovens e a modernização e inovação do setor, ela opina, pode contribuir para que os jovens se desenvolvam também em outras áreas.

A desigualdade social também permeia as questões relativas aos jovens em Serra Negra, destacou Cauã. Aluno de escola da rede pública de ensino durante toda a vida, o estudante vê que a desigualdade e a falta de equidade impedem que todos os jovens na cidade tenham as mesmas oportunidades.

“Há bairros em Serra Negra que são esquecidos, como o Colinas dos Ipês, onde morei, por exemplo, e que não promovem a educação e a saúde, e lá muitos jovens estão em outros caminhos que não o de estudos, como o nosso. Eles precisam de esportes, há bairros e grupos que são esquecidos”, lamentou o estudante.

Para o professor Vladimir Kapor, a desigualdade é a grande questão na sociedade brasileira e também Serra Negra. Kapor avalia que Serra Negra pode investir em políticas públicas que promovam a sociedade e que minimizam as desigualdades. “A mesma violência que sofrem na periferia de São Paulo, o jovem serrano sofre nas periferias da cidade”, comparou.

O total de ocorrências com drogas e álcool em Serra Negra que acabam em denúncias crimes, o professor relata, envolve jovens da periferia. “Como se eles fossem os únicos a consumir álcool e droga”, salientou. A segurança, a educação, o esporte e a cultura, ele cita, têm de estar voltados para a redução das desigualdades.

Mas os jovens têm o caminho para equacionar essa questão, salienta o professor, que é o sentimento de solidariedade. “Para desenvolver Serra Negra e o Brasil, precisamos de muita solidariedade, porque a cidade só se desenvolve de forma harmoniosa se todos tiverem oportunidades”, finalizou.

Na próxima edição, quarta-feira, 5 de agosto, o Serra Negra na Roda vai discutir “O Futuro do Turismo em Serra Negra”. 

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