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Salete Silva
Quem não quer voltar à vida normal, abraçar os amigos, circular pelas ruas da cidade, parando em todas as esquinas para uma conversa com um vizinho ou amigo? Afinal, em cidade pequena, como Serra Negra, o que mais temos são conhecidos.
Quem não quer sentar em uma mesa de bar ou restaurante com familiares e amigos para despejar as amarguras, os medos e as dificuldades de mais de 100 dias de confinamento? Quem não quer a vida pré- pandemia de volta?
Eu, que até me considero uma mulher vaidosa, olho no espelho, vejo os fios brancos se proliferando, o cabelo quase na cintura, minhas unhas sempre impecáveis, agora sem esmalte e, pior, corroídas pelo hábito, arrastado desde a infância, de roê-las até a pele sangrar, sinto uma falta imensa dos profissionais que cuidam de meus cabelos, mãos e pés, que, ao longo dos anos, se tornaram amigos tão queridos.
Que saudade das competições de badminton, que levavam meu filho adolescente às quadras de norte a sul do interior do Estado, proporcionando a ele, independentemente de medalhas ou não, momentos de interação com os amigos, os técnicos e atletas de outras regiões, fundamentais para seu amadurecimento e aprendizado de relacionamento humano.
E que falta faz o faturamento das lojas de meu marido, que nesta época de alta temporada garantia o nosso sustento pelo resto do ano.
Quero minha vida de volta.
Quero minha vida de volta como todo serrano e como qualquer cidadão do planeta, que enfrenta a pior pandemia dos últimos 100 anos.
Mas a realidade me obriga a abrir mão dos meus sonhos, desejos e vontade. Aliás, esta semana, pais da escola de meu filho se reuniram para discutir a formatura. Ele está no 9º ano, período mágico para os adolescentes. Os sonhos desses jovens, diziam alguns, não podem ser abandonados. Sim, não têm de ser abandonados, só precisam ser revistos.
O meu, por exemplo, não é mais o de ver meu filho diplomado, mas de ver o ritmo de crescimento dos índices de contaminação e óbitos por covid-19 diminuídos. É ver menos ou nenhuma família chorando a morte de seus filhos, pais, mães e avós.
Sonho em brindar a vida e simplesmente abraçar os amigos, os familiares e poder andar pelas ruas sem pensar se estou colocando a vida de alguém em risco ou se alguém está colocando a minha e das pessoas que amam em risco.
A vida não é mais como era em janeiro, abril ou março deste ano. A minha vida e de todos hoje depende de como nos comportamos. Manter o distanciamento, evitar aglomerações, higienizar as mãos são o nosso novo normal.
Por que é tão difícil mudar comportamentos, se adequar à nova realidade e refazer os sonhos?
Por que é tão difícil evitar bares, restaurantes, praias, shoppings e aglomerações?
Numa volta pelas ruas da cidade é possível constatar o quanto é difícil para o ser humano, instintivamente um ser social, enfrentar a nova realidade, se resguardar e adquirir novos hábitos.
Mas mais do que ivermectina, cloroquina ou qualquer solução mágica para combater a covid-19, a mudança de hábitos e comportamentos e a adaptação ao novo normal é que nos podem tirar mais rapidamente desse isolamento social, que definitivamente não combina com a natureza humana.
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