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Fernando Pesciotta
A indústria da transformação respondia por 27,3% do PIB brasileiro em 1986. Caiu nos anos seguintes e após a eleição de Lula teve nova retomada, até atingir 17,4% do PIB em 2005. No primeiro ano de Jair Bolsonaro despencou para 11% e recuou ainda mais no primeiro trimestre de 2020, para 10,1%, o piso histórico, e com tendência de queda.
Além da questão estratégica para o País, hoje mero fornecedor de commodities, as consequências sociais são assombrosas. A renda cai e o desemprego se acelera. Conforme destaca o Estadão nesta segunda-feira, 6 de julho, para cada emprego formal fechado, dois informais ficam sem trabalho.
Para fazer frente a isso, o ministro da Economia, Paulo Guedes, depois de longo período de reclusão e silêncio, veio a público na semana passada para repetir seu receituário: reformas estruturais e privatização.
O setor financeiro, de olho nos ativos, e a indústria, por falta de líderes que pensem grande e dignifiquem a definição de liderança, têm se mostrado mais preocupados em pedir favores no atacado. Uma ajuda aqui, um favorzinho ali. Não se vê nenhuma proposta estruturada para o País sendo defendida pelo empresariado. Do governo menos ainda, mas ele foi mesmo eleito sem nenhuma proposta.
Enquanto as fábricas estão fechando, os investidores se posicionam para comprar empresas que estão com preço baixo por causa da crise. Mas isso não é necessariamente uma boa notícia. Esses investidores são fundos institucionais e gestores de famílias ricas. Ou seja, podemos ver um movimento de concentração de renda ainda maior num país campeão de desigualdades.
Guedes diz que nos próximos 90 dias deveremos ter a privatização de quatro grandes estatais. Mais uma vez, a mesma receita do governo Bolsonaro. A privatização beneficia os bancos, que estão capitalizados e ávidos pelos ativos baratinhos, e pode dar algum fôlego para o Tesouro. Mas, esquecendo o grau de polêmica que a cerca, é pouco, muito pouco para o tamanho da crise.
Além de se desfazer do patrimônio público, Guedes, que há anos atua no mercado financeiro, volta a falar também em retomar a CPMF. Sua visão de curto, médio e longo prazo é vender o patrimônio público e taxar o consumo.
Para combater o desemprego, o governo Bolsonaro também tem uma proposta genial: adotar a escravidão. Enquanto os trabalhadores tentam se mobilizar contra a informalidade, a exemplo dos entregadores na semana passada, Guedes e o governo Bolsonaro falam em empregos ainda mais precários, com contratos por hora de trabalho, sem pagamento de previdência ou fundo de garantia, o que exclui a possibilidade de vir a ter seguro desemprego.
No Chile de outra ditadura, de Augusto Pinochet, Guedes e seus colegas de Chicago acabaram com a indústria e deixaram o país dependente de importações. Com poupança elevada, para delírio do setor financeiro, e sem indústria.
No Brasil de Bolsonaro, espero que Guedes preserve ao menos as fábricas de papel higiênico, que serão muito úteis após sua passagem e de seu chefe pelo governo.
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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com
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