//ANÁLISE// Movimentação na Câmara pode isolar Bolsonaro novamente


Fernando Pesciotta

Depois de ter abdicado de bandeiras que o levaram ao poder na eleição de 2018 em prol de uma aproximação com o Centrão e, assim, garantir sua permanência no Planalto, Jair Bolsonaro corre o risco de ver seu sacrifício em vão. Dois dos partidos com as maiores bancadas na Câmara anunciaram ontem que se agastaram do bloco.

Conforme relatam O Globo, Folha e agências de notícias, DEM e MDB, que somam 63 deputados, decidiram se afastar de Bolsonaro e, com isso, implodiram o Centrão. A decisão tem por objetivo buscar independência e assegurar a eleição de um novo presidente da Casa que seja desvinculado do governo.

As duas legendas somadas à oposição podem totalizar quase dois terços da Câmara. São votos suficientes para derrubar qualquer medida governamental e assegurar com folga a eleição do sucessor de Rodrigo Maia. Isso porque o movimento dará uma chacoalhada nos demais partidos do Centrão. Integrantes do PP, PSD, Solidariedade, PTB, PROS e Avante já teriam se manifestado favoravelmente ao novo bloco, segundo a Folha.

Para se entender melhor a organização de forças no Congresso, além da proximidade com o governo, o que representa nomeação de partidários na máquina pública, para os parlamentares é importante estar presente nas comissões internas. Elas são decisivas no encaminhamento de propostas e de demandas da sociedade.

Com a articulação de DEM e MDB, Arthur Lira (PP-AL), que liderou o movimento de aproximação das siglas com o Planalto, corre o risco de se isolar. Isso porque também o PSL articula a formação de outro bloco, com PSC, PTB, PROS e Solidariedade.

Nas próximas semanas será possível observar melhor o resultado prático dessas movimentações. Mas tudo indica que o perdedor será Bolsonaro, que terá de fazer novas concessões para tentar assegurar maioria na Câmara.

Ontem, Bolsonaro se reuniu com assessores para analisar a indicação de líderes e vice-líderes no Congresso. Por causa também dessa movimentação na Câmara, acabou não tomando nenhuma decisão.

Irritado

Por causa disso, ou pelos efeitos da cloroquina, ou por ter sido denunciado por genocídio no Tribunal de Haia, ou porque o desemprego cresce, ou porque há denúncias graves de corrupção no Banco do Brasil envolvendo Paulo Guedes e em outras áreas do governo, Bolsonaro tem se mostrado irritado.

No final de semana, pouco depois de ter defenestrado Bia Kicis da vice-liderança do governo no Congresso, perguntou a um internauta se ele já havia ido tomar Caracu. Era uma resposta grosseira a uma crítica do usuário nas redes sociais do presidente.

Ontem, quando um apoiador lhe disse, na porta do Alvorada, que tinha uma fórmula para acabar com o desemprego, Bolsonaro voltou a ser rude. “Se todo mundo que vier aqui quiser falar comigo, vou ter que montar um escritório aqui”, respondeu ao apoiador.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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