//ANÁLISE// Dallagnol se desespera com o provável fim da Lava Jato


Fernando Pesciotta

Desde a eleição de Jair Bolsonaro, a Operação Lava Jato perdeu protagonismo e deixou de fazer algum sentido. Afinal, seu principal objetivo já estava alcançado, com a condenação do líder das pesquisas de intenção de voto e seu consequente afastamento da candidatura à Presidência.

Uma vez eleito, Bolsonaro surpreendeu alguns e confirmou a tese de muitos ao confirmar o então juiz Sérgio Moro como seu ministro da Justiça. Analistas consideravam que o gesto consolidava uma atuação política da Lava Jato. E desde então surgiram informações que confirmam essa tese.

Vazamentos do Intercept ajudaram a revelar as inúmeras irregularidades cometidas pelos procuradores e pelo juiz. Denúncias ao longo do processo contra Lula não faltaram. As aberrações jurídicas se amontoavam, mas o movimento político para afastar o PT do poder, com apoio da grande mídia, falava mais alto. A pressão sobre as instâncias jurídicas era tamanha que sua isenção se tornou impossível.

Todas as denúncias feitas pela defesa ao longo do processo se confirmaram com os vazamentos. Embalado pela popularidade inicial de Bolsonaro, Moro desdenhava das revelações. Até que o presidente passou a definhar e Moro se viu numa encruzilhada. Resolveu pular do barco, de olho em 2022.

No final de semana, embalado pela perspectiva de candidatura presidencial, Moro abandonou também o figurino de juiz e reconheceu que montou um “ringue” para as audiências com Lula. Escancarou seu papel político no processo.

Sob ameaça de encerramento da operação, que não interessa mais ao governo nem às elites política e econômica, o procurador Deltan Dallagnol passou a chorar pelos cantos. Dissimulado, continua usando falsos argumentos para tentar se segurar numa posição que lhe rendeu fama e dinheiro. Volta a atacar instâncias superiores, embora agora com mais cuidado e estratégia. Seu alvo preferencial passou a ser o chefe do MP, que teoricamente pode ser alvo também do STF. O procurador, assim, continua jogando politicamente.

Dallagnol espera ganhar um pouco mais de tempo à frente da Lava Jato, até que a candidatura de Sérgio Moro se concretize. Então passará a ter um apoio ainda mais consistente de setores relevantes da mídia, que já não disfarçam ver em Moro sua melhor alternativa para enfrentar a loucura de Bolsonaro e fugir da volta de um presidente de esquerda. Condenar Dallagnol pode significar a inviabilidade eleitoral de Moro.

Caso não tenha esse tempo a seu favor, Dallagnol corre sério risco de pagar pelas irregularidades à frente do processo, pelos crimes que cometeu e entrar para a história como um mero burocrata que fez o serviço sujo determinado pelo establishment.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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