//ANÁLISE// Acabou o governo Bolsonaro


Fernando Pesciotta

Ao longo de toda a campanha eleitoral, Jair Bolsonaro repetiu bravatas e propagou propostas de um governo que revolucionaria o status quo político no Brasil. Sem entrar no mérito da questão, se suas ideias eram boas ou ruins, ele se elegeu com um propósito e o vinha cumprindo, destruindo o País, é verdade, mas as cumpria.

Bolsonaro sempre se disse contra o Bolsa Família, que considera esmola para vagabundos. Você leitora ou leitor, conhece alguém que tenha votado em Bolsonaro que não concorde com isso? No ano passado, já eleito, disse que não existem pobres no Brasil. Seu ministro da Economia acrescentou que quem não pode pagar para estudar que se vire, porque o mundo é feito para quem busca oportunidades. Agora Bolsonaro não só redesenha o Bolsa Família como o ampliou e lhe dará novo nome de batismo, assegurando sua paternidade.

Crítico contundente do socorro do Estado aos mais pobres, Bolsonaro agora também defende e implementa o pagamento do auxílio emergencial por mais tempo. Está certo que esse pagamento tem incluído militares e frequentadores de seus palanques e dos palácios de Brasília, mas é visto como alicerce para a campanha de 2022.

Mesmo depois de eleito, Bolsonaro continuou repetindo que sua tarefa era acabar com a “velha política” e não poupou críticas aos “corruptos” do Centrão. Canalhas era o termo mais publicável ao qual recorria para se referir aos políticos convencionais. Dava gargalhadas nas redes sociais esnobando os partidos, a ponto de hoje nem estar filiado a um porque político não presta. Sob a ameaça de ser "impechmado", Bolsonaro agora vive um casamento de amor eterno com o Centrão, a ponto de Roberto Jefferson, o probo, ser seu maior defensor.

Estas são apenas algumas demonstrações de que o governo eleito em 2018 acabou, está enterrado e mantém no poder um presidente isolado. Bolsonaro não decide o que quer, mas o que lhe é possível para se manter na cadeira. Virou refém do seu vínculo com a milícia, do Centrão e dos militares, que tentaram lhe impor um ministro da Educação tão mitômano quanto ele.

O resultado tem sido um desastre para o futuro do Brasil. Um grande investidor precisa de confiança e expectativa ao decidir aportar recursos num país. Hoje ele não tem nem uma coisa nem outra, e por isso foge do Brasil. Uma bola de neve que não permite otimismo num momento em que temos mais desempregados do que empregados, como destaca o Estadão.

Setores do governo reconhecem a necessidade de defenestrar os ministros Ricardo Salles e Ernesto Araújo, de forma a sinalizar para o mercado financeiro global que o governo não é mais aquele eleito e merece alguma confiança. Há grande pressão de bancos como Itaú e Bradesco para isso, de olho em seus bolsos. Resta saber quem será colocado no lugar, se outro dinossauro ou outro mitômano.

Mas se o mercado financeiro está mesmo preocupado, o melhor era trabalhar para colocar alguém no lugar do próprio Bolsonaro, já que o presidente que foi eleito não existe mais.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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