//ANÁLISE// Queiroz é preso num momento de alta tensão no governo


Fernando Pesciotta

A visível irritação do presidente Jair Bolsonaro, que tem se revelado até com seus apoiadores na porta do Palácio da Alvorada, pode crescer ainda mais a partir de agora. Na manhã desta quinta-feira, dia 18, foi preso em Atibaia o famoso Fabrício Queiroz, de longa relação com a família do presidente.

A operação policial, determinada pela Justiça do Rio de Janeiro, inclui busca e apreensão numa casa do presidente Bolsonaro em Bento Ribeiro, onde atualmente mora uma assessora de Flávio Bolsonaro. Há relatos da imprensa de que a polícia usou marretas para localizar duas sacolas, supostamente de documentos e dinheiro, que foram apreendidas.

Queiroz estava escondido na casa de Frederick Wasseff, advogado de Flávio Bolsonaro.

Várias ilações podem ser feitas a partir desta constatação. Wasseff estava presente na posse do novo ministro da Comunicação, Fabio Faria, nesta quarta-feira. A posse, por sinal, virou o epicentro do circo que tem sido armado pelo governo para tentar desviar a atenção de tudo de ruim da atual gestão. Lá estavam os jogadores de futebol Alexandre Pato e Felipe Melo, por exemplo. O que eles têm a ver com isso? E por que o advogado do filho do presidente tem de estar numa cerimônia dessa?

Um procurado pela Justiça estar escondido na casa de um advogado pode parecer algo pouco ético, mas o fato de esse advogado trabalhar para o filho do presidente da República agrava ainda mais a situação. Flávio não sabia? Provavelmente, sim. E se Flávio sabia, o presidente da República também sabia. A conclusão, portanto, é de que o presidente da República ajudava a esconder um sujeito que o Brasil todo perguntava onde estava.

Queiroz tem uma longa história de serviços prestados a Bolsonaro e seus filhos. Ele é visto como gestor das chamadas rachadinhas, esquema de desvio de recursos públicos que teria sido adotado nos gabinetes de Jair e Flávio Bolsonaro.

A imprensa e a rede social se agitam com a prisão de Queiroz, que eleva a temperatura na já quente Brasília. Não será estranho se o governo soltar alguma bomba, se o próprio presidente postar alguma fake news ou fizer novas ameaças para desviar a atenção. Essa tem sido sua estratégia desde sempre, e ganhou pulso nas últimas semanas com o agravamento das denúncias contra ele e o avanço do processo no STF e no TSE que pode levar à cassação da chapa presidencial.

Além da questão jurídica que ronda o Planalto, há crise no Ministério da Educação, a economia patina, o meio ambiente é destruído e o Ministério da Saúde é um caos em plena pandemia.

Você, leitor, pode até gostar de Bolsonaro. É da democracia. Mas sejamos honestos: além da questão ideológica, de tirar o PT, contra esquerdistas, de vociferar contra a cultura, defender a família e todos esses discursos dos costumes, o que ele tem feito para colocar mais comida no seu prato, dar emprego para seus filhos e melhorar o serviço público? Além das bravatas, das ameaças e ataques a todos que discordem dele, o que Bolsonaro faz para melhorar a qualidade de vida do cidadão?

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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