//ANÁLISE// Paulo Guedes e seu samba de uma nota só


Fernando Pesciotta

Fato raro nos últimos meses, o ministro da Economia, Paulo Guedes, apareceu publicamente ontem. Ele participou de evento virtual do Instituto de Garantias Penais (IGP). Novamente, não apresentou nenhuma proposta para a retomada da economia brasileira. Limitou-se a repetir a necessidade de aprovação da reforma tributária e outras mudanças estruturais.

De forma genérica, Guedes, conforme relata a imprensa nesta quarta-feira, 17 de junho, disse que o futuro será brilhante porque é muito difícil piorar. Em outras palavras, concorda que chegamos ao fundo do poço. Porém, sua declaração se referia ao ambiente político. Sobre a economia, nada. Guedes repete apenas que as reformas vão avançar.

Assim como dissemos aqui na terça-feira, a Folha salienta que o avanço da pandemia do coronavírus expõe a falta de planos da equipe econômica. Lembra que mesmo após a chegada do vírus ao País Guedes insistiu que sua influência seria mínima e apostou no crescimento do PIB neste ano. Não tomou nenhuma iniciativa e só avançou no auxílio emergencial de R$ 600 porque foi obrigado pelo projeto aprovado no Congresso e porque o presidente Jair Bolsonaro viu na iniciativa uma oportunidade de melhorar sua imagem perante a população de baixa renda.

Segundo o Estadão, novamente a expansão do saneamento básico pode ser a salvação da economia. A reportagem observa que o País é carente de investimento no setor. Sem avançar além da especulação, ao longo de toda a edição o jornal não cita nenhuma vez o envolvimento de Paulo Guedes ou da equipe econômica nesse suposto projeto.

Juros altos

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central deve anunciar hoje novo corte de 0,75 ponto porcentual da Selic, a taxa básica de juros no País, para 2,25% ao ano. Mas também deve sinalizar que as quedas serão interrompidas, aguardando novas análises da conjuntura, registra o Valor.

Um zelo que chega a ser incompreensível diante do tombo da economia e da falta de planos para sua retomada. Além disso, a renovação sucessiva do piso da Selic não está chegando ao tomador. Ao contrário, segundo revela o UOL, os bancos até aumentaram algumas taxas de juros, principalmente das linhas mais populares para empresas. Em alguns casos, a alta chegou a 44%.

Cai ou não cai?

O mais novo integrante do ministério de Bolsonaro, Fábio Faria, disse que a demissão do ministro da Educação, Abrahan Weintraub, está decidida. A informação, porém, não encontra eco em assessores palacianos e motiva uma reação da família Bolsonaro.

Nas redes sociais, uma hashtag em favor da permanência do ministro avançou velozmente nesta madrugada. Segundo analistas, sinal de que foi potencializada por robôs, o que indicaria uma ação efetiva dos filhos do presidente.

A julgar pelos acontecimentos narrados pela mídia e pela observação dos movimentos nas redes sociais, parece claro que o Centrão, do qual Faria é um dos expoentes, pressiona para ficar com o cargo, e a ala “ideológica” do governo resiste.

Reveladora é a constatação, conforme relata a Folha, de que o presidente nutre profunda admiração por Weintraub. Isso ajuda a explicar o tamanho da mediocridade do governo.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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