//ANÁLISE// Para Bolsonaro, manifestantes são terroristas


Fernando Pesciotta

O presidente Jair Bolsonaro continua sendo cuidadoso ao se referir ao STF e seus ministros, responsáveis, por exemplo, pelo processo relativo às fake news. Mas a mudança de tom supostamente prometida por um presidente acuado não durou muito. Ontem ele chamou de “marginais” e “terroristas” os manifestantes que prometem voltar às ruas no domingo pregando a defesa da democracia, destaca a mídia desde a tarde de ontem. Ele defendeu a concessão de retaguarda jurídica a policiais que agirem nas manifestações de rua.

Os seguidores de Bolsonaro vão às ruas há várias semanas exigindo o fim de instituições pilares da democracia, como o Judiciário, Legislativo e a imprensa livre. O presidente também já emitiu vários sinais nesse sentido, prestigiando essas manifestações.

O receio do presidente é de que o movimento em defesa da democracia se transforme numa força política em favor do impeachment, desvenda o Estadão nesta quinta-feira. Um movimento que tem crescido. Agora com a surpreendente, segundo a Folha, junção de representantes de frentes conservadoras com a esquerda do espectro político. MBL, Kim Kataguiri (DEM), Joice Hasselmann (PSL) e Tabata Amaral (PDT) se juntaram a Marcelo Freixo (PSOL) e Alessandro Molon (PSB), só para citar alguns de um lado e de outro, no movimento em favor da democracia.

Gestão

Depois de 20 dias no cargo, o general Eduardo Pazuello foi oficializado como ministro interino da Saúde. Portanto, ainda não há um ministro efetivo. Sua primeira providência após confirmada a interinidade foi alterar o horário de divulgação dos balanços de doentes e mortos pelo coronavírus. Agora o governo vai apresentar os números no final da noite, evitando que os recordes sucessivos de vítimas não sejam destaque dos telejornais.

Indicado pelo Centrão, o novo presidente do Banco do Nordeste não ficou nem 24 horas no cargo. Enrolado em denúncias de supostas irregularidades cometidas na Casa da Moeda em 2018, Alexandre Cabral foi demitido ontem. Só não se sabe o que foi feito com o responsável pela área de informação do governo, que tem até uma Abin paralela.

O ministro Celso de Mello, do STF, negou recurso do ministro da Educação, Abraham Weintraub, e manteve para hoje seu depoimento à Polícia Federal na investigação de suposto crime de racismo. Conforme a coluna Radar, da Veja, Weintraub se sente desprestigiado e ameaça pedir demissão. O que poderia ser motivo de comemoração corre o risco de virar um pesadelo, pois o governo sempre consegue arrumar um substituto pior do que o titular.

Milícia

O caso da médica agredida por participantes de uma balada no Rio de Janeiro repercute nas redes sociais e nos espaços dos leitores dos jornais. Revoltada com a realização da festa em plena pandemia, a médica quebrou o vidro do carro de um dos participantes. O Mini Cooper, avaliado em mais de R$ 160 mil, pertence ao PM Luiz Eduardo dos Santos Salgueiro, um dos agressores da médica. Leitores e usuários das redes querem saber como um sargento da PM tem um carro tão caro. Salgueiro é suspeito de integrar a milícia do Rio de Janeiro, assim como a família Bolsonaro.

Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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