//ANÁLISE// O Brasil está tomado pelo comunismo


Fernando Pesciotta

O governo de Jair Bolsonaro tem sido atormentado nos últimos dias por notícias ruins. Talvez por isso, desde o dia 18 o presidente não faz nenhuma declaração à imprensa e suspendeu a conversa diária com seus apoiadores no Alvorada. E o roteiro continua desfavorável. 

A Procuradoria-Geral da República investiga o uso de dinheiro público no financiamento das manifestações antidemocráticas. Desconfia-se que parlamentares que integram o grupo de frente desse movimento tenham usado verba de gabinete para pagar a estrutura, promoção e convocação das manifestações que pedem o fechamento do Judiciário, intervenção militar e morte de inimigos da Pátria. A PGR é comandada por Augusto Aras, que já foi muito elogiado por Bolsonaro, que até chegou a cogitar sua indicação ao STF. 

A Polícia Civil do Distrito Federal fez uma operação de busca e apreensão numa chácara em Brasília no fim de semana. Encontrou documentos e utensílios que sugerem que no local eram feitos treinamentos paramilitares de grupos bolsonaristas. Numa linguagem mais clara, a polícia desconfia que agrupamentos como Brasil 300, Patriotas e QG Rural não passam de núcleos terroristas. 

A terça-feira, 23 de junho, amanhece com nova operação policial, desta vez em Belo Horizonte. A pedido do Ministério Público do Rio de Janeiro, a Justiça autorizou busca na casa da madrinha de Fabrício Queiroz. Os policiais procuram por Márcia Oliveira Aguiar, mulher de Queiroz, considerada foragida da Justiça desde a semana passada. 

Investigado em dois processos do STF, o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub viajou para os EUA na calada da noite, sob pretexto de assumir uma diretoria no Banco Mundial. A operação é tão cercada de desconfianças que dá margens a autoridades considerarem que Weintraub fugiu com apoio da estrutura de governo. 

Esses são apenas os casos mais recentes. Em todos eles, a resposta dos apoiadores do presidente nas redes sociais continua sendo a mesma: os responsáveis pelas denúncias são comunistas. A reação virou chacota na rede. A PGR, antes elogiada por Bolsonaro, o STF, o Congresso, Sérgio Moro, a imprensa, a Organização Mundial de Saúde e governadores estão no mesmo balaio de comunistas. A imprensa internacional é comunista, assim como a ONU. Há alguma variação para petista e esquerdista, mas é tudo farinha do mesmo saco. 

Como já alertei aqui, as denúncias que esbarravam na família Bolsonaro e no próprio governo têm apelo popular. A estratégia de recorrer a fake news, cada vez mais fiscalizada, e de acusar seus críticos pode não estar dando certo mais. Conforme noticia a Folha, despenca a popularidade de Bolsonaro nas redes sociais desde a prisão de Queiroz. Encrencado juridicamente, encurralado pelo caso Queiroz e com tendência de perda de apoio, é melhor Bolsonaro colocar as barbas de molho e rever seus conceitos.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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