//ANÁLISE// Muito mais do que o 7 a 1: a inveja que a Alemanha causa


Fernando Pesciotta


A chanceler alemã, Angela Merkel, considerada a “chata” da União Europeia, sempre exigiu que todos os países do bloco fossem rígidos no cumprimento de metas fiscais. Com o poder de quem governa a mais rica nação da Europa, Merkel comprou briga com a Itália, Grécia, Portugal e Espanha, para citar alguns, nos últimos anos. A França, principal aliada, mas com uma disputa bilateral que remonta há alguns séculos, a trata com o maior cuidado possível.

Pois Merkel se dobrou ao coronavírus. Após liderar o enfrentamento da pandemia, fazendo da Alemanha um exemplo para o mundo, com reduzido número de mortos proporcionalmente ao total da população, a chanceler anuncia um vistoso pacote de ajuda para a recuperação econômica do país.

Serão destinados € 130 bilhões (cerca de R$ 750 bilhões) para famílias com crianças, redução de impostos e incentivo à compra de carros elétricos e fluidez de crédito às empresas para que mantenham os empregos, entre outros pontos. Pesado investimento público que joga para as calendas o rigor fiscal. Por entender a excepcionalidade conjuntural, Merkel está pensando na sobrevivência das pessoas, na retomada da economia.

Segundo o governo alemão, o Kraftpaket Deuschland (Alemanha Casa de Força) é o maior programa de estímulo da história. O objetivo é tirar o país da crise rapidamente. Ao apresentar o projeto, o ministro das Finanças, Olaf Scholz, fez um gesto com os braços e disse que quer um “kabum”, como uma explosão, para ultrapassar a barreira da crise provocada pelo coronavírus, relatam as agências internacionais.

Enquanto isso, no Brasil o presidente faz pouco caso da covid-19 e o ministro da Economia continua preocupado exclusivamente com o equilíbrio das contas públicas. Tanto assim que ajudou o presidente a desviar R$ 83,9 milhões do Bolsa Família do Nordeste para fazer propaganda do governo, enquanto 430 mil famílias estão à espera do benefício. O auxílio emergencial de R$ 600 é escandalosamente pago a milhões de pessoas com alto poder aquisitivo, por absoluta incompetência, para dizer o mínimo, do governo e da Caixa.

O crédito para as empresas manterem os empregos nesse período foi anunciado com pompa, em rede de TV, pelo presidente, mas até agora quase nada chegou à ponta. A última notícia, publicada ontem, dava conta de que finalmente o governo daria garantias aos bancos para que liberassem os recursos. Será que agora vai?

Sonho

No ano passado, o governo anunciou de forma surpreendente e com estardalhaço o fechamento de acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia. Na verdade, tratava-se de uma iniciativa que dependia de aprovação unânime dos parlamentos europeus. Pois ontem, 4 de junho, o suposto acordo sofreu novo revés, com a recusa do parlamento holandês em aprová-lo. Os deputados alegam que a situação de descontrole do desmatamento da Amazônia levaria à Europa produtos obtidos às custas da destruição do meio ambiente.

Manifestação

No auge da ditadura militar, as Forças Armadas planejaram explodir o gasômetro do Rio de Janeiro e responsabilizar o movimento de resistência pelo desastre. O caso foi revelado por um militar, que não concordou com a ideia de matar grande número de pessoas. Agora, o presidente da República alerta para a possibilidade de as manifestações de rua programadas para domingo serem alvo de ações violentas e até de atentados.

Ontem, ele chamou os manifestantes de “idiotas, marginais e viciados”. Ele insiste na estratégia de ligar a oposição a atos violentos. Diante disso, lideranças partidárias estão desestimulando a participação nas manifestações de domingo.

Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

Comentários