//ANÁLISE// Governo Bolsonaro é relacionado ao nazismo


Fernando Pesciotta

Outro fim de semana quente ratifica um país em ebulição. Manifestações a favor da democracia convocadas por torcidas organizadas engrossaram protestos contra o governo de Jair Bolsonaro e entraram na onda contra o racismo, motivo de distúrbios nos Estados Unidos de Donald Trump. Ao que tudo indica, dias pouco pacíficos nos esperam nesta semana. Nos EUA, os manifestantes entoam o grito de “quero respirar”, numa alusão às últimas palavras de George Floyd, negro assassinado por um policial branco em Minneapolis.

O ministro Celso de Mello, do STF, conforme destaca a manchete do Estadão desta segunda-feira, classifica os movimentos do governo Bolsonaro como iguais aos que levaram o nazismo ao poder na Alemanha. Bolsonaristas “odeiam a democracia” e pretendem instaurar uma “desprezível e abjeta ditadura”, escreveu numa rede de WhatsApp.

Nos últimos dias, apoiadores de Jair Bolsonaro passaram a explorar o copo de leite associado ao presidente como símbolo do governo. Adolf Hitler fazia o mesmo. Na manifestação contra o STF em São Paulo, os governistas levaram a bandeira neonazista do regime da Ucrânia. Em Brasília, participantes de um movimento armado foram para a frente da sede do STF mascarados e portando tochas, como a Ku Klux Klan.

Também nas redes sociais, os bolsonaristas costumam dizer que seu grupo é composto por “cidadãos de bem”. Este era também o nome do jornal da Ku Klux Klan nos Estados Unidos. Parte do slogan do governo é “Brasil acima de todos”, e o de Hitler era “Alemanha acima de todos”.

Recentemente, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) de Bolsonaro lançou uma campanha para prestar conta do que estaria sendo feito contra a crise e a batizou de “o trabalho liberta”. Causou indignação, principalmente de entidades judaicas, pois essa frase (arbeit micht frei) é a mesma da entrada do campo de concentração de Auschwitz, onde foram assassinadas mais de 1,1 milhão de pessoas.

Neste domingo (31 de maio), novamente Bolsonaro apoiou manifestação contra o STF, com reivindicações autoritárias, conforme o noticiário. Primeiro, usou recursos públicos para, junto com o ministro da Defesa, sobrevoar os (poucos) manifestantes. Depois, deu o ar da graça no ato montado num cavalo.

A reação vem das torcidas organizadas, nas ruas, e de um manifesto de integrantes das mais diversas tendências políticas em defesa da democracia. Segundo a Folha, a iniciativa tenta repetir o movimento Diretas Já. Até o final da noite de domingo, o manifesto reunia mais de 150 mil assinaturas.

O clima político, a ausência de uma estratégia econômica contra a crise e o avanço dos casos de coronavírus, com recordes de mortes e a percepção de inação do governo, o Brasil volta a sofrer duro desgaste no mundo. Segundo a Folha, a imagem de Bolsonaro “derrete” na mídia global. Nos últimos dias, foram inúmeros editoriais e reportagens críticas à forma como o governo (não) reage contra a pandemia.

Centrão

Paralelamente, o presidente efetiva o loteamento do governo com indicados do centrão. Ontem foi confirmada mais uma nomeação, desta vez para o comando do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, cujo orçamento, de R$ 30 bilhões, é um dos mais altos de toda a gestão federal.

Economia

Apoiadores do governo Bolsonaro defendem a ideia de o Brasil se isolar da China. A alegação é de que o país não pode ser vítima do neocolonialismo chinês, sob pena de os brasileiros acabarem comendo morcegos. A mensagem foi transmitida pelo youtuber Bernardo Kuster a um grupo de diplomatas brasileiros, conforme relata a Folha.

Hoje (1º de junho) serão divulgados os dados da balança comercial de maio. Deverá reforçar a importância da China na pauta exportadora brasileira, e o tamanho do superávit a favor do Brasil. Enquanto isso, o governo Bolsonaro não acha colonial sua relação com os EUA e enxerga na China um demônio a ser combatido.

A produção industrial de abril, fabricação e venda de veículos em maio e a projeção dos juros e inflação são outros indicadores esperados para esta semana. No conjunto da obra, devem reforçar a necessidade de uma política econômica mais efetiva.

Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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