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Fernando Pesciotta
Há alguns anos entidades de defesa do meio ambiente acusam o Brasil pelo avanço do desmatamento. Um episódio marcante foi a Operação Carne Fraca, que apurava irregularidades na venda de carne no País e virou pretexto para a mídia global observar que o Brasil derruba a floresta para criar gado e plantar soja.
Nada se compara, porém, com o comportamento do governo de Jair Bolsonaro. Ele é explícito ao se referir a questões ambientais. Seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, tem um profundo amor e respeito pela questão ambiental. Só comparável ao amor que Abraham Weintraub nutre pela educação ou de Bolsonaro pela saúde.
Mês após mês observa-se o avanço do desmatamento da Amazônia. Neste período de pandemia, Salles aproveitou para deixar passar a boiada. Neste ano, até maio, o desmate cresceu 35% e as multas aplicadas pelo Ibama caíram 54%. Liberou geral.
Pois tem sido assim há 18 meses, e ao longo desse período vimos um insistente apoio do mercado financeiro ao governo Bolsonaro. O argumento, claro, é a defesa do dinheiro prometido pela agenda liberal. O resto que se dane.
A única coisa que poderia acontecer para reverter essa lógica finalmente aconteceu. Os investidores internacionais que têm compromisso com organizações de defesa do meio ambiente e são sensíveis às pressões de seus acionistas por temer desgastes que levem a prejuízo, ameaçam tirar o dinheiro do Brasil.
Reportagem do Financial Times, um dos mais influentes jornais do mundo econômico, expôs a intenção dos investidores de tirar o Brasil do raio de ação. Um grupo de 29 instituições financeiras de todo o mundo assinou carta direcionada ao governo brasileiro exigindo redução do crescente desmatamento na Amazônia e ameaçando deixar de investir no País, publicou o jornal britânico.
Aí os donos dos maiores bancos privados do País reagiram. Candido Bracher, do Itaú, e Octavio de Lazari, do Bradesco, alertam para o “perigo ambiental”, relata o Estadão. Bolsonaro, o negacionista, responde que está todo mundo “desinformado”.
O embaixador alemão no Brasil, Georg Witschel, diz no Valor que se o Brasil quiser ter um ambiente de negócios favorável a investimento estrangeiro, o que inclui o acordo entre Mercosul e União Europeia, terá de conter o desmatamento.
Pautados por Itaú e Bradesco, os jornais brasileiros ampliaram a cobertura do tema. E assim deverá ser nos próximos dias.
Nem sempre foi assim
O mesmo Financial Times (https://bityli.com/d33NN) publicou, em 2010, no final do governo Lula, reportagem elogiando o avanço no combate ao desmatamento da Amazônia, mesmo observando a necessidade de medidas ainda mais rigorosas. Mas reconhecia que havia um comprometimento com a causa preservacionista. Não é o caso hoje. Ao contrário, o governo Bolsonaro faz tudo o possível para deixar bem claro que não tem nenhum compromisso com a preservação ambiental. Mas com a ameaça de doer no bolso, Itaú e Bradesco decidiram reagir.
O difícil é fazer Bolsonaro entender que combate ao desmatamento, além de ser positivo para a vida do planeta, significa emprego e renda para o brasileiro. Aliás, é difícil fazer Bolsonaro entender muita coisa.
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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com
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