//ANÁLISE// Crise aumenta o preço a ser pago ao Centrão


Fernando Pesciotta

Dois episódios recentes agravam a situação do governo de Jair Bolsonaro: a fuga do ministro da Educação para os Estados Unidos e a prisão de Fabrício Queiroz na casa do advogado da família do presidente.

O abatimento de Bolsonaro é evidente, revelador de que está nas cordas, como avalia a imprensa nos últimos dias. O semblante carregado deu o tom da live de quinta-feira. O encontro com apoiadores na porta do Alvorada, oportunidade para mandar recados e ofender a imprensa, deu lugar ao silêncio.

Assim, cada vez mais o governo fica nas mãos do Centrão, jogando por terra as promessas de campanha e a imagem de um presidente que reinaria na política sem fazer política.

Por isso, não será nenhuma surpresa se o novo ministro da Educação for um indicado desse bloco partidário. Pela voracidade desses cidadãos de bem, a nomeação pode ocorrer nos próximos dias. Nunca é demais lembrar que o Centrão já tem o controle da FNDE, dona de um dos maiores orçamentos da República, e se não fizer o ministro, não haverá muita diferença.

Além de todo o contexto ruim no MEC e das dificuldades jurídicas em torno da apuração do esquema de fake news, Bolsonaro está levando uma surra de notícias negativas no caso Queiroz, de apelo popular. Tanto que os robôs voltaram a operar nas redes sociais. Exemplo disso é a tag reproduzida abaixo, propaganda com erro grosseiro.



Mentira

O advogado da família Bolsonaro, Frederick Wassef, nega que tenha escondido Queiroz em sua casa, mas não sabe explicar por que o ex-PM e ex-assessor de Flávio e Jair Bolsonaro estava lá. Deu a entender que nem ele sabia. Porém, disse que nunca contou ao presidente que seu ex-assessor estava bem guardado em Atibaia. Só que na live de quinta-feira Bolsonaro explicou que Queiroz estava na cidade porque ia a um hospital próximo para tratar um câncer. Pois se o advogado nunca lhe disse nada, como ele sabia que Queiroz estava lá por causa do tratamento médico?

A tosca mentira, a mudança de advogado anunciada por Flávio e a revelação de que a família de Wassef ganhou milhões na gestão Bolsonaro são elementos que complicam a imagem presidencial. Na manhã desta segunda-feira, 22 de junho, surge a revelação de Bolsonaro estaria “de saco cheio” de Wassef, que “fala demais”.

Militares

Aqui e ali surgem análises segundo as quais os militares, um dos pilares de um governo da “nova política”, estariam incomodados com o crescimento da percepção de que Bolsonaro não passa de um miliciano. Duvido.

Os militares sempre souberam quem são Bolsonaro e seus filhos. O ministro-chefe da Casa Civil, Braga Neto, foi o chefe da intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro em 2018, ano do assassinato de Marielle Franco. Até as calçadas de Copacabana comentam os boatos de envolvimento da família com a milícia.

É importante lembrar que existem 3 mil militares, da ativa ou de pijama, em cargos comissionados em Brasília. Acumulam, portanto, salário dobrado e um naco de poder. Parentes de militares estão em cargos de confiança. Os filhos de Hamilton Mourão e de Villas Bôas foram promovidos e recebem rendimentos muito superiores à média do assalariado brasileiro. Não vão querer perder essa boquinha com a qual sempre sonharam desde a redemocratização.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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