//ANÁLISE// Amor pelo Centrão e desprezo pelo ambiente, as escolhas de Bolsonaro


Fernando Pesciotta

O Centrão conta com um acordo com Jair Bolsonaro para prorrogar o repasse de verbas para os municípios e, assim, apoiar o adiamento das eleições deste ano. Há resistência da equipe econômica, pois a medida deve trazer impacto adicional de R$ 5 bilhões aos cofres públicos.

Embora reforce tanto o discurso em defesa da economia quando despreza a preservação da vida na pandemia do coronavírus, Bolsonaro não parece preocupado com o rombo. Afinal, acaba de conceder aumento do soldo dos militares, e deve dar o aval para o Centrão seguir com a manobra.

No fundo, o presidente está usando recursos públicos para defender seus interesses privados. Busca votos do Centrão no Congresso para assegurar sua permanência no poder. E se há risco de impeachment, é pelos malfeitos de sua família.

Nesta manhã de terça-feira, 29 de junho, a política anuncia a prisão de dois líderes do chamado “escritório do crime”, milícia do Rio de Janeiro acusada de vários crimes, o que inclui o assassinato de Marielle Franco. Com Fabrício Queiroz preso e ameaçando delação premiada e o avanço sobre a milícia só fortalece a dependência do Centrão.

Enquanto isso, o acúmulo de notícias ruins para o governo e o País só faz crescer. A recessão passa a ser uma indesejada realidade. O número de casos e de vítimas do coronavírus continua elevadíssimo e isso, como alertado desde sempre, traz prejuízos econômicos para o País. A União Europeia confirmou a reabertura de suas fronteiras, mas com veto a quem estiver no Brasil. A Europa busca dar alguma luz ao turismo de verão, mas não quer brasileiros levando coronavírus para lá.

Outra decisão com profundo impacto econômico negativo para o Brasil deve ser oficialmente anunciada nos próximos dias. A União Europeia vai vetar o acordo de livre comércio com o Mercosul, anunciado com pompa por Bolsonaro no ano passado. O presidente da França, Emmanuel Macron, alega que o Brasil comete “ecocídio”.

Para quem concorda com o governo Bolsonaro e seu ministro do Meio Ambiente favorável ao ecocídio, aqui fica a renovação de um alerta: a questão ambiental é fundamental para a recuperação da economia. A vitória dos verdes na eleição municipal francesa no último domingo não é por acaso. O mundo que compra produtos brasileiros e investe no Brasil dá muito valor à preservação ambiental e vê na proteção da floresta fator determinante na hora de despejar dinheiro por aqui.

Na semana passada foi o The Wall Street Journal alertando para a decisão de fundos de investimento suspendendo a destinação de recursos para o Brasil, o que levou os bancos privados a pressionarem o governo. Agora é novamente a UE. Enquanto o governo quiser fazer passar a boiada, verá passar a chance de contar com mais dinheiro e emprego.

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Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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