//POLÍTICA// Marquezini renuncia à liderança do Executivo e pede para prefeito governar



Sessão da Câmara Municipal de segunda-feira, 4 de maio:
vereadores sentados na mesa sem respeitar a distância mínima recomendada pelas
autoridades sanitárias; Edson Marchezini (último à direita,
na mesa) e Ricardo Fioravanti (em pé) sem máscaras de proteção.

O vereador Edson Marquezini renunciou ao cargo de líder do Executivo na Câmara Municipal durante a sessão ordinária desta segunda-feira, 4 de maio.  

O principal motivo da renúncia, segundo afirmou na ocasião, é seu descontentamento com medidas tomadas pelo Comitê Municipal de Prevenção e Enfrentamento ao Coronavírus, criado pela Prefeitura de Serra Negra, em 16 de março, para enfrentar a pandemia de covid-19.

Ao assinar a carta de renúncia, o vereador fez menção à reabertura do comércio e à alteração do horário de atendimento ao público dos serviços da prefeitura para o período das 12 às 18 horas.

“Esse comércio precisa voltar a funcionar”, afirmou o vereador, lembrando, no entanto, que a liberação do atendimento ao público das lojas depende também do decreto do governo do Estado de São Paulo e do Ministério Público.  

Para o vereador, o prefeito Sidney Ferrarresso tem delegado decisões importantes no enfrentamento do coronavírus ao Comitê, o que estaria, na sua avaliação, prejudicando o andamento da cidade.

“Peço encarecidamente, prefeito Sidney, que governe a cidade, precisamos da austeridade, das decisões de Vossa Excelência, não precisamos de seu comitê. Tome as decisões da cidade”, disse antes de assinar a carta de renúncia do cargo de líder do governo na Câmara. 

Em nota enviada à redação do Viva! Serra Negra, Marquezini explicou que a sua decisão de renunciar à liderança do governo na Câmara se deveu à sua "indignação" sobre o horário de funcionamento da prefeitura, às "atitudes do comitê e concordância do prefeito com as decisões do comitê", ao fato de a substituição da merenda por kits de alimentação, "indicação minha e lei federal", que teriam de ser concedidos a todos os 1.700 alunos da rede municipal estarem beneficiando "somente 300 crianças", e à "falta de informação do secretário Jorge Ioriatti [de Obras] com relação à sua secretaria".

Marquezini afirmou, porém, que continua alinhado com o grupo político do prefeito, especialmente com o deputado estadual Edmir Chedid: "Tenho um compromisso com o deputado Edmir Cheddid, esse cara tenho gratidão, devo muito favor a ele, a hora que precisar ele conta comigo", disse. "Se ele quiser que eu saia para completar uma chapa, eu saio", completou.

Ao longo da sessão vereadores tanto da oposição ao prefeito como da situação questionaram algumas medidas adotadas até agora pelo Executivo.

Além da prorrogação do isolamento social e da alteração do horário de funcionamento da prefeitura, os vereadores fizeram outros questionamentos.

Um deles foi em relação aos custos do Gripário, montado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA), do Alto das Palmeiras, para atender os casos leves de covid-19. O custo-benefício do gripário não estaria sendo vantajoso, uma vez que, segundo informações do vice-prefeito Rodrigo Magaldi, foram atendidos até agora cerca de 200 pacientes, o que daria uma média de seis por dia. 

Os gastos foram calculados por vereadores da oposição, como Ricardo Fioravanti e Leandro Gianotti, em cerca de R$ 500 mil, embora tenham recebido informação oficial de que os custos estariam em torno de R$ 200 mil. 

Os vereadores questionaram ainda a exclusão de funcionários do Hospital Santa Rosa de Lima do pagamento de um abono de 20% concedido aos profissionais da saúde que atuam na linda de frente como adicional pelo combate ao coronavírus. Esse abono, somado a mais 20% de adicional de insalubridade, resultará num acréscimo de 40% dos salários desses profissionais durante a pandemia.

Para o vereador da situação Leo da Ambulância, o abono estaria inicialmente dirigido apenas aos funcionários da área da saúde e vigilância sanitária, segundo ele, “privilegiados”. Depois de críticas ao critério adotado para a concessão do abono, segundo ele, foi divulgada uma lista com 90 nomes, mas que não inclui os profissionais do hospital.

Maquezini disse que vai insistir para que Sidney reveja essa decisão e chegou a sugerir que funcionários administrativos “abram mão para os funcionários de linha de frente, como enfermeiros, faxineiros e que não estão sendo contemplados”.

O Hospital Santa Rosa de Lima não pertence à prefeitura. Ele é mantido pela Associação da Santa Casa de Misericórdia de Serra Negra. A prefeitura ajuda na manutenção do hospital, repassando a ele, mensalmente, a quantia de R$ 425 mil, num total de R$ 5,1 milhões anuais. 

Os vereadores demonstraram insatisfação com o tratamento do Executivo aos integrantes do Legislativo, que, segundo eles, não estariam sendo ouvidos de forma adequada nas discussões sobre as medidas adotadas ao longo da quarentena. “Os secretários não retornam os pedidos de informações da Câmara”, disse presidente da Casa, Wagner Del Buono.

“O isolamento social foi muito importante até hoje, se não tivesse acontecido teríamos muito mais casos na cidade, o prefeito enfrentou bem a pandemia, mas infelizmente acho que tem de voltar a administrar a cidade e não deixar o comitê do corona (sic) administrar Serra Negra”, afirmou Marquezini.

Ele fez críticas ainda aos profissionais da Vigilância Sanitária que, na sua avaliação, teriam agido com truculência nas ações de fiscalização.

“Quem recebeu o voto foi o prefeito Sidney, não foi nenhum dos membros que compõem esse comitê de saúde, de covid-19, que foi truculento no começo, fez muitas pessoas chorarem, a Vigilância Sanitária foi muito rigorosa e acho que não precisa disso”, afirmou.

Os vereadores de forma geral demonstraram insatisfação com medidas do Executivo e do Comitê desde o início do enfrentamento da pandemia no município.

Na sessão, o vereador Ricardo Fioravanti cobrou da Prefeitura a aplicação da Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA), legislação que prevê a distribuição da renda ou da merenda das escolas e creches a todas as crianças atendidas pela rede municipal de ensino, durante a pandemia.

Também houve críticas dos vereadores ao posicionamento de contenção de gastos dos secretários, como o de Obras, Jorge Ioriatti.

Os vereadores pleiteiam o uso de recursos da Contribuição de Iluminação Pública (CIP), estimados em R$ 600 mil, para a iluminação de ruas de bairros da periferia, mas que não estariam sendo utilizados pelo secretário de Obras por receio de que falte verba para o combate do coronavírus, caso aumente o número de serranos diagnosticados com Covid19.

Marquezini comparou a administração de Serra Negra a de municípios vizinhos, como Amparo, Lindoia e Águas de Lindoia, cujos prefeitos, segundo ele, estariam conseguindo liberar o funcionamento do comércio. Em Amparo, o decreto do Executivo foi derrubado por decisão judicial. Holambra, disse o vereador, conseguiu autorização do governo do Estado para voltar a vender flores. 


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