//ASSISTÊNCIA SOCIAL// Mães querem cestas de alimentos para todos os alunos

Josiane com seus filhos e neta:
auxílio emergencial foi rejeitado pela Caixa

Salete Silva

Mães de alunos da rede pública de Serra Negra pleiteiam o direito ao recebimento da cesta de alimentos distribuída em abril pela prefeitura às crianças carentes das creches e escolas municipais e estaduais do município.

São mulheres com os mais diferentes perfis socioeconômicos. Algumas são trabalhadoras desempregadas que tiveram rejeitado seu pedido de auxílio emergencial de R$ 600 pela Caixa Econômica Federal (CEF).

Outras são empregadas afastadas do emprego em virtude do isolamento social, sem perspectiva de retorno ao trabalho.

E algumas são simplesmente mães que pleiteiam como cidadã o direito a um benefício concedido pela Lei 13.987.

Sancionada no início do mês passado, a legislação, de autoria do deputado Hildo Rocha (MDB-MA), garante a distribuição dos alimentos da merenda escolar às famílias dos estudantes que tiveram suspensas as aulas na rede pública de educação básica devido à pandemia de coronavírus.

Segundo a legislação, pais e responsáveis dos alunos matriculados na educação infantil (creche e pré-escola, de zero a cinco anos), ensino fundamental (de seis a 14 anos) e ensino médio (de 15 a 17 anos) poderão receber os gêneros alimentícios adquiridos pelas escolas com os recursos do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).


A serrana Josiane Araújo, trabalhadora desempregada e avó de uma menina de três anos que frequenta a creche da EMEI Professora Priscila Salzano Cordeiro Brisola, diz que a cesta básica ajudaria a amenizar a dificuldade financeira da família.

Josiane relata que tentou obter o auxílio emergencial da CEF para receber os R$ 600. Seu pedido, no entanto, foi rejeitado com a seguinte justificativa: você não atende todas as condições para receber o Auxílio Emergencial. Motivo: cidadão ou membros da família já receberam o auxílio emergencial.

“Isso é impossível, porque moro com minha filha de 20 anos, meu filho de 17 anos, portador de deficiência, e minha neta de três anos”, afirma. A filha de Josiane, empregada da rede hoteleira do município e afastada em virtude da suspensão das atividades do comércio e hotéis pela quarentena, vai receber cerca de R$ 1,2 mil, dos quais 70% pagos pelo seguro-desemprego e 30% pela empresa.

Josiane estava desempregada até janeiro, quando foi chamada para ser recontratada pelo hotel em que trabalhou ao longo de 2019. “Antes disso, estava trabalhando como empregada doméstica e quando comecei a providenciar a documentação e o exame médico para a recontratação no hotel veio a pandemia”, lamenta.

O filho de 17 anos é aluno da Escola Estadual Professora Maria do Carmo de Godoy Ramos e é atendido pelo Centro de Referência de Assistência Social de Serra Negra (Cras), por meio do qual recebe R$ 80 mensais.

Mas Josiane não soube informar se essa teria sido a razão da rejeição do auxílio emergencial de R$ 600. “Acho que não, porque isso não tem nada a ver”, afirma.

A filha, que era beneficiária do Bolsa Família, já algum tempo também não recebe o benefício. A família vive com seu salário de empregada no hotel, que deverá ser de R$ 1.200 neste período de pandemia.


O kit de alimentos perecíveis e não perecíveis da prefeitura, segundo ela, ajudaria no orçamento da família.

O mesmo diz a auxiliar de cozinha Suzie Mary Rodrigues, que, assim como o marido, é empregada da rede hoteleira de Serra Negra e está afastada pelo seguro-desemprego até 8 de junho.

Ela e o marido ganham em torno de R$ 1 mil cada e o salário de maio só será depositado dia 10 de maio pelo seguro-desemprego, que vai arcar com 70% - o empregador cobrirá a diferença de 30%.

Suzie tem três filhos, um dos quais uma menina de três anos, aluna da escola municipal Dr. Geraldo de Faria Lemos Pinheiro. Os outros dois,e 14 e 16 anos, também estudam em escola pública da rede estadual.

Da renda familiar estimada em R$ 2 mil, quase a metade é só para o pagamento do aluguel (R$ 750), água (R$ 90) e luz (R$ 125). Parte de suas contas já está atrasada. A família estava construindo uma casa e agora não tem previsão de como vai pagar as dívidas contraídas.  

Suzie diz que ficou sabendo da distribuição dos kits pelo Viva! Serra Negra. “Acho que todas as crianças das escolas e creches teriam direito ao benefício”, afirmou.

O hotel em que trabalha, com capacidade para atender 150 hóspedes, emprega 13 pessoas e, segundo Suzie, estava com bom movimento antes da pandemia. “Sabemos que estamos afastados até 8 de junho, mas não sabemos como será depois”, afirma.

Ela diz que não conhece nenhuma criança que tenha recebido o kit e que conhece muitas que necessitam de uma cesta de alimentos. “Aqui em casa, graças a Deus não estamos passando fome, mas acho que seria justo dar para todas as crianças que estão na escola”, afirma.

A prefeitura distribuiu um kit por aluno carente, referente ao mês de abril. Foram distribuídos 300 kits, metade de alimentos perecíveis e outra metade de verduras, legumes e frutas.

A prefeitura vai decidir como será a distribuição dos kits no mês de maio e até o fim do isolamento, uma vez que ainda não há previsão de volta às aulas e de retorno das atividades das instituições de ensino do município.

A triagem das crianças carentes foi realizada pelo Conselho de Alimentação Escolar (CAE), que fez consultas às diretoras das escolas e visitas aos responsáveis pelos alunos que já haviam solicitado o benefício. Foram atendidos os alunos que se encontram em condições de vulnerabilidade, informa a assessoria de imprensa da Prefeitura de Serra Negra em nota ao Viva! Serra Negra.

Quem não foi atendido, informa a nota, e estiver em dificuldade pode procurar a escola para deixar com a direção o nome da criança, telefone e endereço.

A Assistência Social entrará em contato com a família para fazer visita socioeconômica e, se houver necessidade, serão fornecidos kits para quem ainda não recebeu. As escolas municipais atendem às terças e sextas-feiras das 9 às 16 horas.

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