//ANÁLISE// Tombo de 1,5% do PIB trimestral aproxima país da recessão


Fernando Pesciotta

O IBGE manteve a tradição e divulgou na manhã deste dia 29 de maio o PIB do primeiro trimestre. O tombo de 1,5% no período, na comparação com o último trimestre de 2019, confirma as previsões do Banco Central e supera as de alguns bancos e consultorias e aproxima o país da recessão. Na comparação com o mesmo período do ano passado, o recuo é de 0,3%.

Associado aos indicadores do mercado de trabalho, divulgados ontem também pelo IBGE, o recuo do PIB indica que o Brasil precisará de esforços muito maiores do que os demonstrados até agora pela equipe econômica para retomar o crescimento.

Os textos da imprensa nesta manhã são fiéis ao cenário, de baixíssimo impacto da pandemia do coronavírus no PIB do primeiro trimestre, mas algumas edições colocam em primeiro plano um possível efeito da pandemia. Dos 90 dias do trimestre, o país viveu 75 dias sem nenhuma influência da Covid-19.

Trata-se do pior resultado do PIB desde o segundo trimestre de 2015, quando houve queda de 2,1%. Com isso, salienta o IBGE, a economia brasileira retroage ao cenário de 2012.

A retração interrompe uma trajetória de três anos de lenta recuperação. Os técnicos do IBGE observam, porém, que a economia já dava sinais de estafa na virada do ano passado.

A queda de 1,6% do setor de serviços, a maior desde a crise global de 2008, é o que mais pesou, pois o setor representa 74% do PIB. Mas a indústria também caiu, 1,4%, e o crescimento do agronegócio, que vinha segurando a economia, avançou modestos 0,6%. As exportações caíram 0,9%, refletindo o cenário global, especialmente da China.

O consumo das famílias, outro pilar importante do PIB, recuou 2%, interrompendo uma sequência de 12 trimestres de alta.

Dois dados mostram que as expectativas eram positivas. O primeiro é do investimento, cujo crescimento de 3,1% em relação ao período anterior representa o melhor resultado do PIB. E o segundo é a importação, com alta de 2,8%. O consumo do governo teve modesto crescimento, de 0,2%.


Trabalho

Ontem o IBGE anunciou que o Brasil fechou 860 mil vagas de emprego, no pior mês de abril em 29 anos. A população ocupada teve queda recorde, o total do desemprego cresceu para 12,6%.

Com esses dados, conclui-se que simplesmente esperar pelas privatizações não levará o país de volta ao crescimento econômico. Com a moeda batendo recordes consecutivos de desvalorização, uma imagem internacional que não ajuda a atrair investimentos, crises políticas diárias que realimentam a falta de confiança, crescimento da insegurança jurídica e uma massa gigantesca de desempregados e “pejotizados”, o governo de Jair Bolsonaro terá de se reinventar para voltar a dar esperanças. Especialmente sob as perspectivas de mais piora no cenário econômico, por causa dos efeitos da pandemia em todo o mundo. Ficar negando a crise e acusar a mídia não vai resolver.

Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com


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