//ANÁLISE// Crises sanitária e política corroem imagem internacional do Brasil


Fernando Pesciotta

A terça-feira começa com uma iniciativa que pode agravar a crise política. Conforme destaca o G1, agentes da Polícia Federal amanheceram na sede do governo do Rio de Janeiro fazendo buscas contra o governador Wilson Witzel, alvo de recorrentes críticas do presidente Jair Bolsonaro. A operação Placebo apura supostas irregularidades na construção de hospitais de campanha no Estado.

Na famigerada reunião ministerial do dia 22 de abril, conforme o vídeo tornado público pelo STF, Bolsonaro chamou Witzel de “estrume”. Com a investida da Polícia Federal, em cujo comando o presidente assumidamente quis interferir, e a despeito da autorização dada pelo STJ, os ânimos ficam ainda mais acirrados. Na mesma reunião, Bolsonaro chamou o governador de São Paulo, João Doria, de “bosta”. Nesse contexto, recomenda-se a Doria a colocar as barbas de molho.

Dinheiro

Os agentes do mercado financeiro adoraram o vídeo da propalada reunião ministerial de 22 de abril. Enquanto analistas políticos, juristas e colunistas apontavam uma grande quantidade de supostos crimes de responsabilidade de Bolsonaro e contabilizavam supostas bizarrices nas manifestações de ministros, os operadores agiam a pleno vapor.

A Bolsa fechou com valorização de 4,25%, para o maior volume de papeis negociados desde antes da pandemia do coronavírus mandar metade da população brasileira para o isolamento social.

O câmbio seguiu a mesma lógica. A cotação do dólar caiu 2%, para o menor valor em quase um mês. No acumulado do ano, porém, o real continua sendo a moeda de maior desvalorização, com perda de 7,5/%. Mas a Bolsa tem expressiva retomada desde o piso de março, acumulando alta de 34,76%.

Está certo que as ações, mesmo com a retomada, continuam relativamente baratas, e os juros básicos historicamente no piso, fazem com que a Bolsa continua sendo atrativa. Mas os operadores justificam que a reunião ministerial não foi boa, como tanto se explorou na mídia nos últimos dias, mas foi menos pior do que se imaginava, como explicam analistas financeiros.

Em outras palavras, os operadores acham que o vídeo não tem força suficiente para derrubar Bolsonaro ou seu ministro da Economia. Por sinal, as ações que mais subiram ontem foram do Banco do Brasil. Os investidores gostaram de ouvir Paulo Guedes dizer que “tem de vender essa porra logo”.

Saúde pública

A despeito do otimismo do mercado financeiro, as crises política e de saúde pública continuam, e devem continuar na pauta da mídia. O Brasil agora tem mais de 23 mil mortos. O ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, disse ontem, segundo o UOL, que o interior do País ainda não chegou ao pico da doença. Mesmo assim, vários Estados começam a reduzir a quarentena. Minas Gerais e Distrito Federal reabrem hoje o comércio.
No Rio Grande do Sul, onde o comércio já estava aberto, o número de registros de contagiados cresceu 86% na última semana.

O desgaste internacional do Brasil continua. Gideon Rachman, colunista do influente Financial Times, publicou ontem duras críticas a Bolsonaro. Seu populismo ao lidar com o coronavírus leva o Brasil ao desastre, escreveu. “Numa visita ao Brasil no ano passado, conversei com uma financista importante sobre os paralelos entre Donald Trump e Bolsonaro. ‘Eles são muito parecidos, mas Bolsonaro é muito mais estúpido’”, relata o colunista.

Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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