//ANÁLISE// Ações da Polícia Federal atiçam o ambiente político


Fernando Pesciotta

A operação da Polícia Federal contra o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, vai para a manchete dos principais jornais do país nesta quarta-feira (27 de maio). O assunto ocupa os mais relevantes espaços do noticiário político. Segundo o Estadão, os aliados do presidente Jair Bolsonaro tratam a ação como um troco a Witzel.

Os analistas políticos que merecem ser levados a sério são praticamente unânimes na conclusão de que a ação da PF pode até ter motivação, mas a sequência dos fatos enriquece a tese de politização.

Bolsonaro nunca escondeu a intenção de ter o maior controle possível da Polícia Federal no Rio de Janeiro, seu berço político, onde dois de seus filhos atuam e onde pairam suspeitas de envolvimento com a milícia.

A pressão para ter esse controle levou à saída do ministro Sérgio Moro e motivou a abertura de investigação ainda em curso no Supremo Tribunal Federal. Paralelamente, Bolsonaro chamou Witzel de “estrume”. O presidente rompeu com o governador a partir do momento que este indicou sua intenção de disputar a eleição ao Planalto em 2022.

Na véspera da ação da PF no Palácio das Laranjeiras, a deputada Carla Zambelli, cão de guarda de Bolsonaro, disse para quem quisesse ouvir que a polícia iria atrás de governadores. As críticas de Bolsonaro à PF foram substituídas ontem pelos parabéns após a investida contra Witzel.

Essa cronologia ajuda a explicar por que a ação está sendo entendida como um gesto político. Pode até ser que o governador do Rio de Janeiro tenha cometido crimes, mas o comportamento nada republicano do presidente em relação à PF ajuda a embaralhar as coisas.

No Rio de Janeiro, até as pedras do Cristo Redentor comentam a suposta ligação da família Bolsonaro com a milícia. Junte-se a isso a série de ilações sobre o assassinato da vereadora Marielle Franco. Depois de 17 meses no cargo, Witzel não apresentou nenhum resultado sobre as investigações. Agora, se vier a fazê-lo, poderá parecer revanche.

Fake news

Nesta manhã (27 de maio), a Polícia Federal está na rua para executar outra operação que promete desdobramentos ainda mais sensíveis. Segundo noticia o G1, a apuração do esquema de fake news levou os agentes a endereços de aliados de Bolsonaro, como Roberto Jefferson, Alan dos Santos e Luciano Hang. Eles são suspeitos de integrarem o esquema coordenado pelo chamado Gabinete do Ódio. Resta saber se Bolsonaro dará os parabéns à PF novamente. 

Falta de confiança

A crise provocada pela pandemia reduziu o fluxo de comércio e acabou resultando em recorde do superávit externo brasileiro. De acordo com a Folha, as importações caíram mais do que as exportações, levando o saldo positivo para US$ 3,8 bilhões em abril. O principal fator é a brusca queda de gastos de brasileiros no exterior.

O que parece uma boa notícia, porém, traz preocupações aos analistas. Superávit é sempre bem-vindo, mas a queda dos negócios pode significar uma piora da economia.

Ainda conforme algumas análises, a gestão da economia sofre dificuldades com a imagem ruim do país no exterior. Sinal disso é a fuga de capitais, que se observava desde o fim de 2019 e se agravou neste ano. É normal que em momentos de crise o dinheiro busque portos mais seguros, mas os dados do Banco Central indicam que há agravantes em relação ao Brasil.

Conforme análise de José Paulo Kupfer no UOL, há saída líquida de recursos aplicados no mercado financeiro e redução do investimento direto. O Brasil é um dos países mais afetados por esse fluxo, o que ajuda a entender a liderança do real na desvalorização de moedas. A síntese para os investidores atende pelo nome de “falta de confiança”.

Fernando Pesciotta é jornalista e consultor em comunicação. Contato: fernandopaulopesciotta@gmail.com

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